Agricultores e comunidades tradicionais têm seu modo de vida e subsistência afetados pela empresa Suzano Papel e Celulose

UF: MA, PI

Município Atingido: Palmeirais (PI)

Outros Municípios: Curralinhos (PI), Hugo Napoleão (PI), Matões (MA), Monsenhor Gil (PI), Palmeirais (PI), Regeneração (PI), Tanque do Piauí (PI), Teresina (PI), Timon (MA)

População: Agricultores familiares, Comunidades urbanas, Extrativistas, Ribeirinhos

Atividades Geradoras do Conflito: Agrotóxicos, Atuação de entidades governamentais, Madeireiras, Monoculturas

Impactos Socioambientais: Alteração no ciclo reprodutivo da fauna, Alteração no regime tradicional de uso e ocupação do território, Assoreamento de recurso hídrico, Contaminação ou intoxicação por substâncias nocivas, Desertificação, Desmatamento e/ou queimada, Erosão do solo, Falta / irregularidade na autorização ou licenciamento ambiental, Falta / irregularidade na demarcação de território tradicional, Poluição de recurso hídrico, Poluição do solo, Precarização/riscos no ambiente de trabalho

Danos à Saúde: Insegurança alimentar, Piora na qualidade de vida

Síntese

Em 2010, a Suzano Papel e Celulose S/A prometeu investimentos da ordem de R$ 5 bilhões, geração de 10 mil empregos diretos e 15 mil indiretos com a instalação da Unidade Industrial de Produção de Celulose e Papel Suzano S.A., no município de Palmeirais, Piauí, cidade localizada 70 km ao sul da capital Teresina, na região do médio e baixo rio Parnaíba. O anúncio gerou grande expectativa na população local não somente do município, como de toda a região (Rede Alerta Contra Desertos Verdes, 2021; Barbosa, 2022).

Para esse fim, inicialmente, a empresa arrendou mais de 3 mil hectares e plantou eucalipto em 30% da terra. Produtores locais também fizeram plantios em mais 75 mil hectares. A previsão de início das operações era o ano de 2016 (Sales, 2014). Com a expectativa da operação da unidade, prefeituras renunciaram à arrecadação de impostos com a instalação da fábrica em troca da geração de emprego; empresários locais viram no anúncio oportunidades e passaram a direcionar seus negócios, contraindo empréstimos milionários com bancos, de modo a aproveitar o momento para o plantio de eucalipto. A promessa era de que toda a produção de eucalipto fosse adquirida por parte da Suzano quando a fábrica estivesse funcionando em Palmeirais (Pereira, s/d).

A empresa, no entanto, anunciou sua saída do estado do Piauí em março de 2013, frustrando as expectativas de moradores em vários municípios da região. Ao Piauí, ficou delegada apenas a função de área de plantação dos eucaliptos, os quais, a partir de então, seriam cortados e enviados até Imperatriz, município no estado do Maranhão, onde de fato a fábrica da Suzano foi instalada em 2014 (Sales, 2014).

Moradores apontam que até a mão de obra contratada para a manutenção das florestas de eucaliptos era proveniente do Maranhão, descumprindo também a promessa de geração de empregos e renda para as áreas diretamente afetadas pelo plantio (Rede Alerta Contra Desertos Verdes, 2021). Ademais, agricultores e agricultoras familiares passaram a ter problemas para acessar antigas áreas de plantio de subsistência como, por exemplo, de arroz e mandioca, que foram arrendadas pela Suzano. Onde antes tinham passe livre, passaram a ser cobrados pelo uso de crachás para circular nas terras (Sales, 2014).

Dezenas de pessoas foram expulsas e milhares de hectares de matas nativas foram desmatados e substituídos por pés de eucalipto. A extração de coco e madeira por parte das comunidades também foi proibida. A região, que também é um polo de criação de caprinos e ovinos, além da extração da fava de faveira (Dimorphandra mollis) – uma espécie bastante utilizada na indústria farmacêutica –, teve suas principais atividades econômicas impactadas pela promessa nunca cumprida da Suzano (Pereira, s/d).

 

Contexto Ampliado

Segundo pesquisa realizada pela professora Marta Inês Medeiros Marques (2015), a empresa Suzano Papel e Celulose S/A se autodefine como uma “uma empresa de base florestal dedicada aos segmentos de celulose, papel e biotecnologia”, tendo sido pioneira no plantio de eucalipto para a produção de celulose no país. No estado de São Paulo, iniciou sua produção em 1950, após investir em pesquisa, com o intuito de substituir a celulose produzida a partir do pinus, antigamente importada. A Suzano é controlada pela empresta gestora de participações Suzano Holding S. A.

Em 1980, a Suzano criou a Bahia Sul Celulose, no município de Mucuri (BA), ganhando destaque no mercado nacional e visando expandir tanto a produção de papel quanto a exportação de celulose Tal empresa surgiu de uma associação entre várias empresas: Suzano (37,77%), Companhia Vale do Rio Doce (30,91%, por meio da Florestas Rio Doce), BNDES Participações S.A – BNDESpar (27,66%) e Corporação Financeira Internacional (3,66%) – conforme aponta Marques (2015).

Cabe salientar que no período da Ditadura Militar (1964-1984) as empresas Aracruz Florestal e Aracruz Celulose S.A. se instalaram no município de Aracruz e Anchieta, no norte do Espírito Santo, afetando agricultores familiares, trabalhadores rurais sem terra e povos indígenas. A Aracruz Celulose, posteriormente se tornou Fibria, e hoje também é parte da Suzano. Mais recentemente, no sul da Bahia, em Santa Cruz Cabrália, a Veracel Celulose (fruto da união entre a brasileira Aracruz Celulose S.A e a sueco-finlandesa Stora Enzo) também vem trazendo impactos para agricultores familiares e povos indígenas. Portanto, entre o norte do Espírito Santo e o sul da Bahia está situado um polo de conflitos envolvendo a monocultura do eucalipto.

A Suzano é responsável por desenvolver todas as etapas do processo produtivo, divididas em suas várias unidades fabris espalhadas pelo país, que vão desde a pesquisa até a experimentação de espécies e variedades produtivas, a produção de mudas em viveiros, como também o plantio de eucalipto, o manejo, a colheita, o transporte até a produção da celulose e do papel e, por fim, sua distribuição. A Suzano foi a primeira empresa do setor no Brasil a lançar ações em uma bolsa de valores, tendo aberto seu capital em 1980, além de ser a primeira a plantar eucalipto e vender créditos de carbono na hoje extinta Chicago Climate Exchange, em 2004 (Marques, 2015).

De acordo com Marques (2015), a Suzano tem uma elevada carga de trabalhadores terceirizados, que majoritariamente são empregados na produção florestal, que é a atividade-fim da empresa. O crescimento de sua produção está relacionado à melhor seleção de plantas, mais adaptadas às condições edafoclimáticas (condições e características do solo e do clima que influenciam no desenvolvimento de seres vivos, especialmente vegetais) de cada região onde atua, buscando maior produtividade. Para isso, também conta com a ampliação da base florestal por onde ela se instala (Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Piauí e Tocantins). Com 1,6 milhões de hectares de plantações de árvores de eucalipto, a Suzano possui capacidade de produção, ao ano, de 10,9 milhões de toneladas de celulose; 1,4 milhões de toneladas de produção de papel; e 280 mil toneladas de produção de itens de higiene.

Segundo o site oficial da Suzano, a empresa conta com um escritório em São Paulo (SP) e um em Salvador (BA). Além disso, conta com 14 unidades industriais: em Mucuri e Eunápolis, na Bahia; em Maracanaú, no Ceará; em Aracruz e Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo; em Imperatriz, no Maranhão; em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul; em Belém, no Pará; em Suzano, Rio Verde, Limeira, Jacareí e Mogi das Cruzes, em São Paulo. Também possui um Centro de Tecnologia em Aracruz (ES) e três no estado de São Paulo, sendo um em Limeira, um em Itapetininga e um em Jacareí. Há centros de distribuição espalhados em 14 estados no país (AM, BA, CE, ES, GO, MG, MT, MS, PE, PR, RJ, RS, SC, SP) e no Distrito Federal (Brasília), bem como Terminais Marítimos em Portos na Bahia (Terminal Marítimo de Belmonte e Terminal Marítimo de Barbaças Luciano Villas Boas Machado), no Espírito Santo (Portocel), no Maranhão (Porto do Itaqui) e em São Paulo (Porto de Santos).

Em 2008, a Suzano anunciou um ambicioso plano de crescimento com a previsão de ampliação da sua unidade de produção em Mucuri, mas também com a instalação de indústrias no Maranhão e no Piauí. A fábrica no Maranhão, no município de Imperatriz, foi adiante; já a fábrica no Piauí foi abandonada pela empresa. Em 2019, a Suzano Papel e Celulose se fundiu com a Fibria – então líder de mercado – e hoje, junto com a Veracel Celulose, formam o Grupo Suzano.

Em relação aos aspectos socioambientais, o Grupo Suzano acumula um histórico de conflitos com comunidades quilombolas e tradicionais, em especial na Bahia e no Maranhão. As queixas dos moradores locais incluem uso indiscriminado de agrotóxicos, contaminação de rios e grilagem (Oliveira, 2023). Conflitos envolvendo essa mesma empresa e outras do ramo da monocultura de eucalipto podem ser checados neste Mapa, como no caso dos quilombolas em Conceição da Barra (ES); de agricultores familiares em Urbano Santos (MA); na instalação de um porto ou de um polo siderúrgico no Maranhão.

Além de acumular impactos socioambientais em diversos estados, o grupo empresarial da Suzano é o maior consumidor de água nas bacias hidrográficas de domínio federal. Segundo Rafael Oliveira na Agência Pública (2023), utilizam 469,8 bilhões de litros de água por ano, além de possuirem 59 outorgas espalhadas em oito estados de quatro regiões do país. O total de água utilizado para captação e uso na indústria e plantios – uso autorizado por meio de outorgas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) – seria suficiente para abastecer, juntas, as populações dos municípios do Rio de Janeiro (RJ) – 6.211.423 habitantes (IBGE, 2022) – e de Manaus (AM) – 2.063.547 habitantes (IBGE, 2022), o que seria equivalente a um total de 8.274.970 pessoas abastecidas, ao invés de eucaliptos. As árvores de eucalipto, além do fato de serem árvores de plantio exótico, e não nativas, também são grandes consumidoras de água. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os valores de consumo diário de água/árvore oscilam entre 1,2 e 46,2 litros. Daí a necessidade de outorgas de água por parte das empresas, como forma de garantir o plantio.

Outro retrospecto negativo da atuação da Suzano diz respeito a denúncias de violações trabalhistas, com a não oferta de condições sanitárias dignas para seus trabalhadores e notificações de trabalho escravo em áreas de seu domínio.

O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado do Piauí (MPPI) – com apoio do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente (Caodma) – ingressaram com uma Ação Civil Pública (ACP) no dia 24 de maio de 2011, junto à Justiça Federal, em desfavor da empresa Suzano Papel e Celulose S.A., solicitando a anulação da licença ambiental concedida pelo estado do Piauí para a fábrica então prevista para se instalar em Palmeirais/PI.

Além disso, a ação determinou que a empresa complementasse o Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima), delimitando a Área de Influência Direta (AID) e os impactos ambientais aptos a alcançarem municípios no estado do Maranhão. A preocupação dos órgãos se deu pelo fato de as ações da fábrica ultrapassarem os limites territoriais do estado do Piauí, dado que os efluentes (resíduos) gerados pela unidade seriam diretamente lançados no rio Parnaíba. Como o leito do rio Parnaíba tem toda a sua extensão de 1.344 km atravessando a divisa entre os estados do Piauí e Maranhão até desaguar no município de Parnaíba (PI), isso ocasionaria impactos em ambos estados.

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado pela Suzano Papel e Celulose S. A. levou em consideração que a abrangência da fábrica ocuparia o rio Parnaíba tanto na margem que banha o estado do Piauí, seu centro, quanto na margem que banha o estado do Maranhão, visando a captação de água e lançamento de efluentes. Nesse sentido, a decisão seguiu a recomendação dos MPs e apontou que não se tratava de “impacto ambiental indireto ou eventual às duas unidades federativas, mas de intervenção direta”, indicando que o centro de produção de celulose de eucalipto afetaria ambos os estados, Piauí e Maranhão (MPPI, 2013). Além disso, em caso de eventual acidente, haveria risco de danos à saúde e à segurança da população que habita a parte à jusante da unidade fabril, em municípios como Teresina (PI) e Timon (MA) – segundo publicado pelo MPPI (2013).

Conforme noticiado pelo portal Cidade Verde, no dia 22 de junho de 2012 a Justiça Federal no Piauí determinou a suspensão do licenciamento ambiental da Unidade Industrial de Produção de Celulose e Papel Suzano S. A. no município de Palmeirais (PI). O licenciamento havia sido realizado pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Piauí (Semarh). A Justiça Federal entendeu que a responsabilidade para o licenciamento, nesse caso, era da competência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), determinando que o órgão assumisse com urgência o processo a fim de evitar danos ambientais por parte do empreendimento.

No dia 15 de outubro de 2012, segundo o MPPI (2013), o Juízo da 1ª Vara Federal do Piauí deferiu parcialmente pedido de antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional para também determinar a suspensão do licenciamento ambiental do Projeto Florestal para Produção de Madeira para Atendimento da Demanda Industrial, realizado pela Semarh. O Juízo também indicou que o Ibama assumisse o licenciamento ambiental desse projeto, dado que estaria vinculado à produção de madeira para a unidade fabril da Suzano.

Em 13 de março de 2013, o portal Cidade Verde noticiou que a Suzano Papel e Celulose anunciara sua saída do estado do Piauí. O informe foi dado pelo presidente da Suzano, Walter Schalka, via teleconferência, explicando porque a empresa havia suspendido suas atividades temporariamente no estado. Segundo Shalka, a Suzano havia investido cerca de R$ 550 milhões, desde 2008, na unidade fabril no Piauí, mas, devido às ações impetradas pelo MPF e MPPI, a empresa estava impedida de plantar, o que, segundo ele, inviabilizava a instalação da fábrica no estado.

O presidente da Suzano alegou também como motivos o contexto de uma crise financeira que a empresa estaria enfrentando em decorrência da queda de preço da celulose e da retração do mercado global, além de entraves judiciais e endividamento. Daí a decisão pela suspensão das atividades no Piauí até que surgissem condições para sanar os problemas (Cidade Verde, 2013; Marques, 2015).

Walter Shalka mencionou que, apesar disso, houve empenho para a instalação da unidade por parte dos ex-governadores do Piauí Wellington Dias (PT) – entre 2003 e 2010  – e Wilson Martins (antes do PSB, hoje filiado ao PT) – entre 2010 e 2014. Ainda segundo ele, ambos deram condições de infraestrutura para a instalação da Unidade Industrial de Produção de Celulose e Papel no Estado do Piauí. Mas o então governador piauiense, Wilson Martins, classificou a medida como quebra de acordo entre a empresa e o governo estadual (Cidade Verde, 2013).

Matéria de José Pereira para o Portal Bruenque (s/d) informou, no entanto, que um dos motivos para a desistência tinha a ver com o fato de que as mudas geneticamente modificadas trazidas para o estado do Piauí não atendiam ao controle de qualidade almejado pela empresa. Também foi indicado que, apesar do compromisso político da gestão estadual do Piauí, a própria empresa fez pouco caso sobre as condições logísticas oferecidas à unidade, que se situaria “num local que liga o nada a lugar nenhum”.

A Suzano manteve seu projeto de instalação no município de Imperatriz, Maranhão, que estava mais avançado e com possibilidades de colheita de madeira (Cidade Verde, 2013). Apesar de já estar em operação desde dezembro de 2013, a fábrica foi oficialmente inaugurada em 20 de março de 2014, contando com a presença da então presidente Dilma Rousseff (PT).

A unidade começou a funcionar com capacidade produtiva de 1,5 milhão de toneladas/ano e geração de excedente de 100 MW de energia, e contou com investimentos na área industrial e formação da base florestal na monta de 3 bilhões de dólares. A fábrica passou a ocupar uma área total de 1,5 milhão de m², sendo 96 mil m² de área construída. Em termos logísticos, o escoamento da celulose produzida ali passaria a ser feito por um ramal ferroviário próprio de 28 km (para o qual foram investidos R$ 100 milhões) até a ferrovia Norte-Sul, de onde percorreria mais 100 km até a ferrovia Carajás, tendo como destino final o porto de Itaqui, no Maranhão (Revista O Empreiteiro, 2014).

No dia 19 de fevereiro de 2018, o então governador do Piauí, Wellington Dias (PT), esteve reunido em São Paulo, acompanhado da secretária de Estado da Educação, Rejane Dias, com o diretor de Assuntos Institucionais da Suzano Papel e Celulose, Pablo Gimenez Machado, e o diretor jurídico da empresa, Carlos Eduardo Pivato Esteves. O motivo do encontro foi tratar dos investimentos da Suzano no Piauí, conforme publicado pela página do Governo do Estado do Piauí (2018).

Os representantes da Suzano garantiram que os investimentos realizados no estado anos antes seriam aproveitados e que os contratos firmados seriam cumpridos. A preocupação de Dias era dar alternativa para as empresas que já haviam feito investimentos no estado e procurar futuros investidores. Pablo Machado corroborou, afirmando que:

“Nosso compromisso era de priorizar a planta do Piauí, mas pela conjuntura e planos da empresa precisamos frear os investimentos. No entanto, além de cumprir com os contratos firmados, a empresa estará aberta para ajudar o Governo do Piauí em acordos com outros investidores na área de biomassa ou celulose” (Governo do Estado do Piauí, 2018).

A Real Regeneração Agropecuária foi a primeira empresa a mover uma ação judicial contra a Suzano Papel e Celulose S/A, exigindo reparação pelos prejuízos causados em função da não instalação da fábrica de papel no Piauí. Em novembro de 2019, no entanto, advogados da Suzano tentaram realizar uma manobra jurídica para transferir a competência da ação para o estado de São Paulo para retardar o andamento do processo, mas não tiveram êxito. Assim, a ação continuou no Piauí, na 3ª Vara de Justiça de Teresina.

A Suzano é acusada por quebra de promessa pela instalação da unidade, envolvendo o governo do estado, empresários, agricultores familiares e produtores da região do médio e alto Parnaíba (Pereira, s/d). Os produtores foram prejudicados pelo cumprimento de contratos que estabeleceram com a empresa no plantio da matéria-prima, o eucalipto, pois não houve nenhum ressarcimento ou recompensa pelos investimentos realizados. A Real Regeneração plantou mais de 6 mil hectares de eucaliptos não aproveitados pela Suzano.

Conforme publicado por Ruana Barbosa (2022) e pela Revista Brasil (2022), no dia 16 de março de 2022 ocorreu uma audiência pública no auditório da Câmara de Vereadores do município de Regeneração (PI), com o intuito de debater a saída da empresa do estado. Para a Câmara de Vereadores de Regeneração, o encerramento das atividades da empresa abalou a economia do Piauí, frustrando expectativas dos moradores e de empresas locais. Regeneração foi uma das cidades que teve mais prejuízos com a Suzano. Segundo aponta matéria de José Pereira para o Portal Bruenque (s/d), foram 100 milhões de reais de prejuízos acumulados nos municípios piauienses. Assim, a Câmara considerou importante discutir o tema e cobrar da empresa maiores esclarecimentos sobre o ocorrido por meio de uma audiência pública.

Por isso, responsáveis pela Suzano foram ouvidos durante a audiência em que estiveram presentes produtores rurais, prefeitos de municípios afetados e empresários locais. Participaram os prefeitos em exercício, na época, dos municípios de Regeneração (Eduardo Alves Carvalho “Seu Dua” – PTB), de Monsenhor Gil (João Luís Carvalho da Silva – PSD) e Tanque do Piauí (Natanael Sales de Sousa “Tiel Sales” – PP); o presidente da Câmara de Vereadores de Regeneração, Luiz dos Santos (Barel); o ex-prefeito de Hugo Napoleão, Hélio Rodrigues (PT); o deputado estadual Marden Menezes (Progressistas); e o major da Polícia Militar (Diego Melo) – conforme matéria de José Pereira. Na audiência, o representante da Real Regeneração Agropecuária, Tiago Junqueira, defendeu uma reparação financeira pelos danos sofridos com a quebra de acordo por parte da Suzano.

O então vereador de Regeneração Samuel da Real (Patriota) apontou que a Suzano deixou, além dos passivos ambientais e financeiros, danos à malha viária, especialmente ao longo da rodovia estadual PI-236. Segundo o vereador, foram enviados vários ofícios para que a empresa apresentasse uma explicação ao município, além de elaborar alguma reparação para os estragos causados. Garantiu que a empresa seria cobrada na Justiça até que fosse dada uma solução – conforme publicado pelo portal Bruenque (s/d).

Em 2022, 40 organizações não governamentais (ONGs) denunciaram as violações da Suzano ao International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial, para que o órgão vetasse um empréstimo bilionário pleiteado pela empresa para a construção de uma planta em Ribas do Rio Pardo (MS). Mesmo com as denúncias, o empréstimo de R$ 3,5 bilhões foi concedido (Oliveira, 2023). Tal fato demonstra que, apesar de ocasionar inúmeros impactos socioambientais e financeiros para as populações dos municípios onde se instala ou pretende se instalar, como foi o caso da unidade fabril em Palmeirais (PI), a Suzano continua tendo aval para ampliar seus investimentos em outros estados, potencializando a ocorrência de novos impactos e violações.

 

Atualizada em fevereiro de 2024.

Cronologia

1950 – A Suzano Papel e Celulose S/A inicia sua produção no estado de São Paulo, após investir em pesquisa.

Década de 1980 – A Suzano cria a Bahia Sul Celulose, no município de Mucuri (BA).

– A empresa abre seu capital.

2004 – A Suzano é a primeira produtora de eucalipto a vender créditos de carbono na Chicago Climate Exchange.

2008 – A Suzano anuncia plano de crescimento, com previsão de ampliação da sua unidade de produção em Mucuri e de instalação de indústrias no Maranhão e no Piauí.

24 de maio de 2011- O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado do Piauí (MPPI) ingressam com uma Ação Civil Pública (ACP) contra a Suzano Papel e Celulose S.A. e solicitam a anulação da licença ambiental do empreendimento.

22 de junho de 2012 – A Justiça Federal no Piauí determina a suspensão do licenciamento ambiental da Unidade Industrial de Produção de Celulose e Papel Suzano S. A. no município de Palmeirais (PI).

15 de outubro de 2012 – O Juízo da 1ª Vara Federal do Piauí defere pedido para determinar a suspensão do licenciamento ambiental do Projeto Florestal para Produção de Madeira para Atendimento da Demanda Industrial.

13 de março de 2013 – A Suzano Papel e Celulose anuncia a sua saída do estado do Piauí, com a finalização das atividades.

20 de março de 2014 – Ocorre a inauguração oficial da fábrica de celulose da Suzano no município de Imperatriz, no Maranhão.

19 de fevereiro de 2018 – O então governador do Piauí, Wellington Dias (PT), reúne-se em São Paulo com representantes da Suzano Papel e Celulose para incentivar o investimento da empresa no estado.

2019 – A Suzano Papel e Celulose se funde com a Fibria.

Novembro de 2019 – Após a empresa Real Regeneração Agropecuária mover uma ação judicial contra a Suzano Papel e Celulose S/A no Piauí, advogados da Suzano tentam transferir a competência da ação para o estado de São Paulo.

16 de março de 2022 – Ocorre uma audiência pública no auditório da Câmara de Vereadores do município de Regeneração (PI), com o intuito de debater os impactos negativos da curta atuação da Suzano Papel e Celulose no Piauí.

2022 – 40 Organizações Não Governamentais (ONGs) denunciam as violações da companhia ao International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial, demonstrando que, apesar do histórico de impactos ocasionados em Palmeirais (PI), a Suzano ainda mantém investimentos em outras localidades no Brasil, como em Ribas do Rio Pardo (MS).

 

 

Fontes

BARBOSA, Ruana. Regeneração: Audiência Pública debaterá saída da empresa Suzano Papel e Celulose do Piauí. Canal 121, 14 mar. 2022. Disponível em: https://shre.ink/r0Gq. Acesso em: 05 dez. 2023.

COUZEMENCO, Fernanda. Suzano é a empresa que mais consome água das bacias de domínio federal. Século Diário, 26 out. 2023. Disponível em: https://shre.ink/rvuC. Acesso em: 05 dez. 2023.

DANTAS, Aldir. Tentáculos do grupo Suzano papel celulose devastam mais de 50 municípios maranhenses. Acervo Combate Racismo Ambiental, 15 jun. 2013. Disponível em: https://shre.ink/r0is. Acesso em: 11 dez. 2023.

EM audiência na 3ª Vara de Teresina, Suzano tenta transferir processo para São Paulo. Portal Bruenque.com.br, nov. 2019. Disponível em: https://shre.ink/ruWK. Acesso em: 11 dez. 2023.

EMPRESA Suzano e os prejuízos causados ao estado do Piauí. Revista Brasil, 16 mar. 2022. Disponível em: https://shre.ink/r0G3. Acesso em: 05 dez. 2023.

GOVERNO trata com diretoria da Suzano sobre investimentos no Piauí. Governo do estado do Piauí, 19 fev. 2018. Disponível em: https://shre.ink/r0Gx. Acesso em: 05 dez. 2023.

JUSTIÇA Federal homologa acordo entre MPF, o Estado do Maranhão e a Suzano e garante a preservação dos interesses das populações tradicionais do Sudoeste maranhense. O Progresso, republicado por Acervo Combate Racismo Ambiental, 02 jul. 2014. Disponível em: https://shre.ink/r0yV. Acesso em: 11 dez. 2023.

JUSTIÇA suspende licença ambiental da Suzano Papel e Celulose. CidadeVerde.com, 26 jun. 2012. Disponível em: https://shre.ink/ImEY. Acesso em: 05 dez. 2023.

LEITE, Wilson. Suzano e as águas do Maranhão. Acervo Combate Racismo Ambiental, 18 jan. 2012. Disponível em: https://shre.ink/r0Cm. Acesso em: 11 dez. 2023.

MARQUES, Marta Inez Medeiros. Considerações sobre a expansão da indústria de papel e celulose no Brasil a partir do caso da Suzano Papel e Celulose. GEOgraphia, ano 17, n. 35, Dossiê, p. 120-147, 2015. Disponível em: https://shre.ink/ruGf. Acesso em: 05 dez. 2023.

OLIVEIRA, Rafael. Os donos da água: 50 empresas podem usar mesma quantidade que metade do Brasil. Agência Pública, 26 out. 2023. Disponível em: https://shre.ink/rvu4. Acesso em: 05 dez. 2023.

PEREIRA, José. ‘Deram uma banana para o estado do Piaui’ – Tiago Junqueira sobre os prejuízos ambientais e econômicos deixados para trás pela Suzano papel celulose. Bruenque.com.br, s/d. Disponível em: https://shre.ink/r0CG. Acesso em: 05 dez. 2023.

PEREIRA, José. Vereador Samuel da Real: A Suzano vai ter que vir aqui nessa casa, ela vai ter que dar uma satisfação”. Ou ela vem por bem, ou por mal”. Bruenque.com.br, s/d. Disponível em: https://shre.ink/ruGt. Acesso em: 05 dez. 2023.

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SUZANO inaugura fábrica em Imperatriz (MA). Revista O Empreiteiro, 21 mar. 2014. Disponível em: https://shre.ink/r0Ck. Acesso em: 11 dez. 2023.

WESSLLEY SALES. Suzano deixa eucaliptos e mata esperança de piauienses. YouTube: Canal Wesslley Sales, 27 maio 2014. 6’09”. Disponível em: https://shre.ink/ImEN. Acesso em: 05 dez. 2023.

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