GO – Comunidade quilombola de Cedros cobra do INCRA agilidade na publicação do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID)

UF: GO

Município Atingido: Mineiros (GO)

Outros Municípios: Mineiros (GO), Santa Rita do Araguaia (GO)

População: Quilombolas

Atividades Geradoras do Conflito: Especulação imobiliária

Impactos Socioambientais: Alteração no regime tradicional de uso e ocupação do território, Assoreamento de recurso hídrico, Desmatamento e/ou queimada

Danos à Saúde: Piora na qualidade de vida, Violência psicológica

Síntese

A comunidade quilombola do Cedro foi formada em 1885, pelo ex-escravo conhecido como Chico Moleque quando o mesmo adquiriu uma gleba de terras, cerca de 1.379,158 hectares, da fazenda Flores do Rio Verde, localizada atualmente no município de Mineiros, em Goiás (GO).

Chico Moleque conseguiu comprar essas terras, assim como sua alforria, a de sua mulher e filha mais velha, com o dinheiro que acumulou trabalhando aos domingos e feriados em outras propriedades – no meio de semana trabalhava para seu senhor. Nesta terra começou a trabalhar, juntamente com sua mulher, filhos e alguns de seus irmãos. Mais tarde, os negros que fugiam das fazendas próximas e de outras regiões foram para o quilombo, e a população foi crescendo.

Há 130 anos os descendentes de Chico Moleque permanecem no território, embora tenha havido um grande decréscimo populacional – em 1970 havia na comunidade 232 remanescentes de quilombo, divididos em 37 unidades domésticas; atualmente vivem cerca de 143 moradores, divididos em 129 residências, em apenas 50,2 alqueires (aproximadamente 243 hectares) de terra (THIAGO, 2011).

Os cedrinos fundaram em 1998 o Centro Comunitário de Plantas Medicinais para produzirem medicamentos fitoterápicos. O conhecimento etnobotânico dos moradores, que já era um importante aspecto de identidade da comunidade, se transformou na mais importante fonte de geração de renda e trabalho para os moradores.

Em 06 junho de 2003, a Comunidade do Cedro foi certificada como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares (FCP). Este documento permite que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) elabore o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) das comunidades quilombolas. Após a publicação do RTID, pelo INCRA, a Presidência da República edita um decreto de desapropriação do imóvel; este é desapropriado pela autarquia e repassado à posse coletiva da comunidade que a reivindica.

Atualmente os quilombolas do Cedro se mantêm mobilizados para cobrar do INCRA agilidade na publicação do RTID. Porém, até o momento, não existe nenhuma perspectiva de data apresentada pelo Instituto para finalização do mesmo. Sabe-se apenas que está em desenvolvimento o relatório antropológico da comunidade – realizado via Termo de Cooperação Técnica entre o INCRA e a Universidade Federal de Goiás (UFG).

Contexto Ampliado

A comunidade remanescente de quilombo Cedro está localizada no município de Mineiros no estado de Goiás (GO), que compõe a microrregião sudoeste do estado e faz parte da Bacia Hidrográfica Araguaia Tocantins.

A comunidade quilombola do Cedro atualmente vive em apenas 50,2 alqueires (aproximadamente 243 hectares) de terra, pois houve uma redução de 82,4% do que era inicialmente. No total, é constituída por 29 residências, cerca de 143 moradores (THIAGO, 2011). Embora a luta pela regularização fundiária seja prioritária para o quilombo do Cedro visto que a falta de titulação impede que as comunidades quilombolas garantam o domínio e a posse da terra, assegurando alternativas viáveis para a sua sobrevivência com dignidade -, existem inúmeras outras questões que mobilizam a comunidade, como, por exemplo, a falta de infraestrutura. Não existe energia elétrica em todas as casas da comunidade, as estradas internas são muito ruins, e bicicletas e cavalos são os meios de transporte mais utilizados pelos cedrinhos, visto que o transporte público rodoviário também é precário.

A origem do nome do município é em homenagem aos povoadores vindos do Estado de Minas Gerais (MG), como os Carrijo de Resende, quando descobriram diamantes às margens do Rio Verde, em meados do século XIX (SILVA, 2012). Além disso, é importante pontuar que em Mineiros se inicia o Parque Nacional das Emas, uma área de proteção ambiental de 131.800 hectares de cerrado, Patrimônio Mundial Natural pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

A comunidade Cedro foi constituída pelo ex-escravo Francisco Antônio de Moraes, conhecido como Chico Moleque, que foi trazido de Minas Gerais. Ele conseguiu comprar sua alforria e também de sua mulher, Rufina, e da filha mais velha, Benedita, além de parte das terras da Fazenda Flores do Rio Verde, onde atualmente está localizado o quilombo Cedro, segundo pesquisa de Silva (2003) e Baiocchi (1983) apud Thiago (2011).

Chico Moleque conseguiu realizar essas compras acumulando o dinheiro que ganhava realizando trabalhos extras, para além dos que era obrigado a fazer para seu dono, João Gabriel. Essa história é exposta por um dos descendentes do mesmo da seguinte forma: o ganho dele foi gerado do serviço de dias santos e domingos, e nem todos os domingos e dias santos João Gabriel deixava ele trabaiá pra ele. Tinha que trabalhar para João Gabriel. Entoce ele foi trabalhando, ajuntando, e naquele servicim forrô a mulher e depois a Benedita Marcos de Jesus, sua filha mais velha; ele foi um dos primeiros home que trabaiô aqui no Goiás (Mineiros), que vendeu um carro de milho por 10 mil-réis, o homem mais rico que tinha pele preta (BAIOCCHI, 1983, p. 83-84, apud THIAGO, 2011).

A Fazenda das Flores tinha em 1857 aproximadamente 145 mil hectares. O território comprado por Chico Moleque foi de cerca de 1.379 hectares, em 1885, do Sr. Galdino Gouveia de Morais e sua mulher, Sra. Izabel Cândida da Silva, segundo o documento Ação de Divisão de Terras arquivado no cartório do 2° Ofício de Mineiros-GO (THIAGO, 2011). Nesta terra começou a trabalhar, juntamente com sua mulher, filhos e alguns de seus irmãos. Mais tarde, negros que fugiam das fazendas próximas e de outras regiões foram para o quilombo, e a população foi crescendo.

Estima-se que na década de 1970 havia na comunidade 232 remanescentes de quilombo, divididos em 37 unidades domésticas. Estes se dedicavam à criação de gado que era o setor principal da economia de Mineiros , mas nas unidades familiares também se criavam suínos, equinos e aves, além da agricultura, como milho, feijão e mandioca, sobretudo para a subsistência (SILVA, 2012). Nesse sentido, a comunidade sempre esteve inserida na economia regional do município. Os homens, além de trabalharem nos lotes, eram empregados dos fazendeiros da região, como vaqueiros, boiadeiros, meeiros ou lavradores, e ainda garimpavam diamante. Em períodos mais críticos, como no final da lavoura, trabalhavam como tratoristas, mensalistas ou boias-frias para suprir as necessidades principais.

O nome da comunidade – Cedro -, segundo é exposto na pesquisa de Thiago (2011), está relacionado à árvore cedro-rosa das matas de galerias do Rio Verde, assim como ao córrego Cedro que passa dentro do quilombo, onde existia uma grande variedade de espécies de grande porte em suas matas ciliares, como cedro, aroeira, peroba e jatobá.

Até a década de 1970, o que existia no Cedro eram casas pequenas, construídas em pequenos terrenos e que tinham em média 2 ou 3 alqueires (aproximadamente 9 hectares), em meio à vegetação do cerrado, sem energia elétrica e estradas para acesso aos lotes.

Entretanto, o processo de urbanização na região, que se intensificou a partir da década de 1970, contribuiu para um significativo decréscimo populacional no quilombo do Cedro. Segundo Silva (2012), o estabelecimento da capital federal no planalto central em 1960 e, em razão disso, a construção de malha viária ligando a capital a outras regiões para promover, entre outras coisas, o escoamento de produção e incentivando a instalação de empresas rurais em Mineiros, foram fatores-chave para essa urbanização.

Estima-se que, entre os anos 1977 e 1997, houve um decréscimo populacional de 36% da população do quilombo. A precária infraestrutura falta de coleta de lixo, falta de sistema de esgoto, de escola -, a inexistência de políticas públicas no município que visassem a geração de renda e emprego, além da maior dependência dos mercados da cidade contribuíram para que muitos quilombolas, sobretudo os jovens, deixassem o Cedro. De acordo com Silva (2012, p.11), houve um desmantelamento de suas tradicionais formas de organização social e de trabalho.

Como estratégia para contrapor a evasão no quilombo, os cedrinos como são conhecidos os moradores do mesmo – criaram em 1998 o Centro Comunitário de Plantas Medicinais do Cedro. O conhecimento etnobotânico dos moradores já era um importante aspecto da identidade da comunidade e se transformou em fonte de geração de renda e trabalho para os moradores. O Centro foi construído com apoio financeiro da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e os moradores realizaram cursos sobre gestão oferecidos pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Desde então, são produzidos xaropes, remédios, garrafadas, chás, pomadas e sabonetes tudo com base em plantas do Cerrado como o ipê roxo, algodãozinho, arruda, losna, mil folhas/erva do guerreiro (dipirona), jatobá, aroeira, douradinhas, entre outras. O trabalho é realizado de forma coletiva e cada dia da semana é separado para alguma atividade – colheita, produção e preparo. Segundo Simone, uma das quilombolas que trabalha com a fitoterapia, aqui tem remédio de toda qualidade, para sinusites, gripes, reumatismos e vários tipos de infecções. (…) Já veio gente de São Paulo, Brasília, Goiânia e Curitiba para comprar nossos produtos (KOGA, 2012).

De acordo com a coordenadora geral do laboratório, Ângela Maria dos Santos Morais, o trabalho é bem dividido entre homens e mulheres (produção e comercialização); desde crianças os quilombolas da comunidade aprendem a mexer com as ervas nativas do cerrado. A mesma já ministrou cursos em diversos lugares do Brasil, geralmente em comunidades carentes, segundo informações publicadas pela mesma fonte (KOGA).

Em 06 junho de 2003, a Comunidade do Cedro – juridicamente denominada como Associação dos Quilombolas do Cedro, fundada em 17 de março de 1995 – foi oficialmente reconhecida como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares (FCP) portaria n° 26 publicada no Diário Oficial da União em 8 de junho de 2005.

O reconhecimento pela FCP significou o primeiro passo para que a Comunidade obtivesse a demarcação de suas terras. Segundo o decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003 e que trata do artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o procedimento para a idetificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes dos quilombos compete ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Este deve elaborar o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID); após a publicação do Relatório, a Presidência da República edita um decreto de desapropriação do imóvel. Uma vez consumada a desapropriação pelo INCRA, ele é repassado à posse coletiva dos quilombolas que o reivindicam.

Em 2005, o INCRA-GO criou o Projeto de Assentamento (PA) Chico Moleque, no qual foram assentadas 10 famílias da Comunidade em terras com cerrado nativo para coletarem plantas medicinais e praticarem agricultura e pecuária em pequena escala. O PA, conhecido como fazenda pelos cedrinhos, está localizado na região da Agrovila Ivapé, segundo publicado pelo jornal Diário da Manhã (17-11-2006). Esta foi uma importante conquista para a Comunidade, pois desde a década de 1970 a tônica das ocupações foi o desmatamento, fazendo com que as fontes dos rios secassem e se perdessem várias espécies de plantas do cerrado. Todavia, a formação desse assentamento não tem relação com o processo de titulação das terras que pertencem ao quilombo, e que foram compradas por Chico Moleque.

Dessa forma, a Comunidade Quilombola do Cedro foi dividida em duas áreas. Uma onde está o Laboratório de Plantas Medicinais, a Associação dos Quilombolas do Cedro e algumas moradias, e outra, onde fica o projeto de assentamento, a fazenda do Quilombo a 30 km de Santa Rita do AraguaiaGO, segundo notícia da Conexão Minicom (16-03-2011). Contudo, a centralidade da luta dos cedrinos é de que as terras que pertencem ao quilombo sejam tituladas em nome da comunidade, ou seja, que o INCRA emita o título para a Associação.

Em 20 de março de 2011, o blog Combate Racismo Ambiental publicou reportagem expondo que o Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO), através da Procuradoria da República em Rio Verdade, expediu recomendação ao INCRA para que ele desse continuidade ao processo de regularização fundiária da Comunidade do Cedro. Segundo a procuradora da República, Sabrina Menegário, o objetivo é a identificação, o reconhecimento, a delimitação, a demarcação e a titulação definitiva das terras ocupadas pelos remanescentes daquele quilombo. O MPF estabeleceu prazo de 30 dias para que a o Instituto se manifestasse sobre as medidas para resolver a questão.

Posteriormente, o INCRA em Goiás, representado por Jorge Tadeu Jatobá, e o chefe da Divisão de Ordenamento da Estrutura Fundiária do Incra/GO (Fundiária Incra/GO), Gilson de Oliveira Filho, anunciaram que iriam estudar formas de agilizar a realização dos Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação (RTID) de territórios quilombolas no estado, além de promover reunião com as lideranças quilombolas, entre elas a Comunidade do Cedro, segundo notícia do blog Combate Racismo Ambiental (18-10-2011).

Na mesma notícia foi dito que o INCRA-GO, no dia 13 de outubro, realizou reunião com representante da Comunidade do Cedro e mais outras lideranças de seis quilombos do estado, tendo ainda a presença de dirigentes da Coordenação de Comunidades Quilombolas do Movimento Negro de Goiás (Conerego), do Fórum Goiano de Reforma Agrária composto por movimentos sociais, organizações governamentais, não governamentais e estudiosos da questão agrária e fundiária e professores da Universidade Federal de Goiás (UFG). O INCRA apresentou na ocasião um plano de trabalho para elaborar o RTID das comunidades. Além disso, foi salientado que o campus avançado em Catalão da UFG estava estudando uma forma legal de contribuir com a elaboração dos relatórios antropológicos necessários para a conclusão do RTID.

Em 28 de fevereiro e 1° de março de 2013, as comunidades quilombolas do Cedro e Buracão, ambas localizadas no município de Mineiros, receberam visita da Procuradoria da República (MPF) para verificar a situação em que se encontravam os territórios tradicionalmente ocupados. Segundo reportagem do blog Combate Racismo Ambiental (08-03-2013), os quilombolas do Cedro reclamaram da morosidade do INCRA em elaborar o RTID.

O Procurador da República, Wilson Rocha Assis, falou que o INCRA estava violando o artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição da República de 1988, que assegura aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir a eles os títulos respectivos. Por esse motivo, o MPF expediu ofício à Prefeitura Municipal de Mineiros e ao INCRA solicitando que medidas urgentes fossem tomadas para a garantia dos territórios tradicionais e dos direitos fundamentais dos membros das duas comunidades quilombolas, segundo a mesma fonte citada acima.

Em 23 de agosto de 2013, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) a assinatura de um Termo de Cooperação Técnica entre o INCRA e a UFG campus Catalão. O mesmo previa a colaboração da UFG para elaboração do RTID, especificamente dos laudos antropológicos das comunidades. Com tempo estimado de 18 meses e investimento de R$ 349,5 mil do INCRA, o Termo de Cooperação, inédito em Goiás, beneficiaria cinco quilombos: Cedro e Buracão, no município de Mineiros; Almeidas, em Silvânia; João Borges Vieira, em Uruaçu; e Nossa Senhora Aparecida, no município de Cromínia, segundo informação publicada no site do INCRA-GO (23-08-2013).

Posteriormente, nos dias 11 e 12 de setembro de 2013, o Ministério Público Federal realizou audiência pública para debater a proteção e a promoção dos conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio genético do Cerrado brasileiro. O evento foi realizado no quilombo do Cedro.

Foram convidados para a audiência pública as comunidades tradicionais do Cerrado, entidades da sociedade civil (como organizações não governamentais) e órgãos públicos locais, regionais e nacionais (entre eles, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Educação, e a Secretaria-Geral da Presidência da República). O evento teve apoio da Rede Cerrado, da prefeitura de Mineiros, da Articulação Pacari e das comunidades quilombolas do Cedro e do Buracão.

Na audiência, os quilombolas do Cedro cobraram a regulamentação da produção de remédios fitoterápicos e um maior diálogo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Procurador, Wilson Rocha, concordou afirmando: as comunidades querem dialogar com a Vigilância Sanitária, querem cumprir as exigências que a Vigilância Sanitária faz. Mas a gente precisa que essas exigências sejam razoáveis, que sejam adequadas à realidade cultural, social, econômica e ambiental em que essas comunidades estão, segundo informações publicadas pelo G1 Globo (10-11-2013).

Como um dos resultados da audiência pública, foi escrita a Carta de Mineiros Declaração sobre os Direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais do Cerrado Brasileiro. Publicada pelo blog Combate Racismo Ambiental (13-09-2013), entre outras coisas a Carta reivindica que:

– Deve-se reconhecer aos chamados conhecimentos tradicionais o mesmo grau de relevância e valor que os chamados conhecimentos científicos;

– Também como forma de respeito aos povos e comunidades tradicionais, devem ser repudiadas todas as tentativas de impedir que os povos e comunidades tradicionais explorem seus próprios conhecimentos;

– A fim de garantir a salvaguarda dos conhecimentos tradicionais dos povos e comunidades do Cerrado brasileiro, devem ser adotadas medidas protetivas de seu meio ambiente, de sua biodiversidade e de seus recursos hídricos;

– Entre as medidas de proteção do meio ambiente do Cerrado, devem ser adotadas medidas de proteção contra a contaminação do solo e da água por agrtóxicos e produtos químicos, contra as práticas de queimadas ilegais e contra a expansão insustentável do agronegócio, especialmente das monoculturas no Cerrado;

– A prática da medicina tradicional deve ser garantida como uma ação de uso sustentável e conservação da biodiversidade.

– Nenhuma lei e nenhum ato administrativo podem ser editados no Brasil de forma a prejudicar os direitos dos povos e comunidades tradicionais garantidos na Constituição da República Federativa do Brasil, na Convenção nº 169/89 da Organização Internacional do Trabalho, na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, na Convenção da Diversidade Biológica, no Protocolo de Nagoya, na Carta da Terra, na Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, na Medida Provisória nº 2.186-16/2001 e noutros tratados e declarações internacionais de direitos humanos;

– É dever do Poder Público promover a implementação de políticas públicas de promoção dos conhecimentos tradicionais, mediante adequação das exigências sanitárias às realidades socioeconômicas, culturais e ambientais das comunidades tradicionais e dos agricultores familiares;

– É dever do Poder Público garantir os direitos sobre os territórios dos povos e comunidades tradicionais, mediante a regularização fundiária dos territórios de tais povos e comunidades do Cerrado, de acordo com a realidade e os interesses das próprias comunidades;

– O Poder Público deve debater com a sociedade civil a possibilidade de criação de fundo socioambiental específico destinado a apoiar os povos e comunidades tradicionais do Brasil, fundo este que deve ser gerido de acordo com a vontade dos povos e comunidades tradicionais e, entre outras fontes de receita, deve contar com pagamentos feitos por empresas em razão do acesso a conhecimentos tradicionais já disseminados, ou amplamente difusos.

No ano seguinte, na 4ª Reunião da Mesa Permanente de Regularização de Territórios, realizada no dia 15 de dezembro de 2014 e composta por 15 representantes das diversas comunidades quilombolas de Goiás, além do INCRA, da Prefeitura de Mineiros e da Secretaria de estado de Políticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial (SEMIRA), foi avaliado que houve evolução nos processos de elaboração das RTIDs das comunidades, assim como avanços na elaboração dos relatórios antropológicos, através do Termo de Cooperação Técnica entre o INCRA e a UFG. Foi ainda afirmado que a previsão de término do relatório antropológico da comunidade do Cedro seria agosto de 2015, segundo informações divulgadas no site do INCRA-GO (18-12-2014).

Atualmente a comunidade se mantém mobilizada, cobrando do INCRA agilidade na publicação do RTID; todavia não existe nenhuma previsão anunciada pelo Instituto para a finalização do mesmo.

Cronologia

1885 – Cerca de 1.379 hectares da Fazenda das Flores são comprados por Chico Moleque, ex-escravo, se constituindo o quilombo do Cedro. Área localizada atualmente no município de Mineiros GO.

Década de 1970 Região se urbaniza e ocorre um significativo decréscimo populacional no quilombo do Cedro.

17 de março de 1995 É fundada a Associação dos Quilombolas do Cedro.

1998 É fundado o Centro Comunitário de Plantas Medicinais do Cedro.

06 de junho de 2003 – A Comunidade Quilombola do Cedro é juridicamente reconhecida como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares (FCP).

2005 O INCRA-GO cria o Projeto de Assentamento (PA) Chico Moleque, no qual são assentadas 10 famílias da Comunidade do Cedro.

20 de março de 2011 – O Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO), pela Procuradoria da República em Rio Verdade, expede recomendação ao INCRA para que dê continuidade ao processo de regularização fundiária da Comunidade do Cedro.

13 de outubro de 2011 O INCRA realiza reunião com representante da Comunidade do Cedro e mais outras lideranças de seis quilombos do estado. Apresenta plano de trabalho para elaborar a RTID das comunidades.

28 de fevereiro e 1° de março de 2013 – As comunidades quilombolas do Cedro e Buracão, ambas localizadas no município de Mineiros, recebem visita da Procuradoria da República (MPF) para verificar a situação em que se encontram os territórios tradicionalmente ocupados.

23 de agosto de 2013 – É publicado no Diário Oficial da União (DOU) a vigência do Termo de Cooperação Técnica entre o INCRA e a UFG campus Catalão para contribuir com a elaboração do relatório antropológico das comunidades quilombolas do estado de Goiás.

11 e 12 de setembro de 2013 – O Ministério Público Federal realiza audiência pública para debater a proteção e a promoção dos conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio genético do Cerrado brasileiro, realizado no quilombo do Cedro. Como resultado é criada a Carta de Mineiros Declaração sobre os Direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais do Cerrado Brasileiro.

15 de dezembro de 2014 4ª Reunião da Mesa Permanente de Regularização de Territórios, na qual é afirmado que o relatório antropológico da comunidade do Cedro será finalizado em agosto de 2015.

Fontes

COMBATE RACISMO AMBIENTAL. Conhecimentos tradicionais e patrimônio genético do Cerrado serão temas de audiência pública. Publicado em 17 de julho de 2013. Disponível em: http://goo.gl/8qnkbx. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

______. GO: Incra vai agilizar trabalho de reconhecimento de terras quilombolas. Publicado em 18 de outubro de 2011. Disponível em: http://goo.gl/1Jh09p. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

______. MPF divulga declaração de direitos dos povos do Cerrado brasileiro. Publicado em 13 de setembro de 2013. Disponível em: http://goo.gl/qfvDvr. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

______. MPF/GO quer demarcação de terras quilombolas em Mineiros. Publicado em 20 de março de 2011. Disponível em: http://goo.gl/lSKodO. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

______. MPF visita comunidades quilombolas no município de Mineiros em Goiás. Publicado em 08 de março de 2013. Disponível em: http://goo.gl/3uvq3o. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

______. Você conhece o patrimônio genético e os conhecimentos tradicionais do Cerrado? Publicado em 27 de agosto de 2013. Disponível em: http://goo.gl/MGg0B6. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

CONEXÃO MINICOM. Conexão do Gesac alia modernidade e tradição na Comunidade Quilombola do Cedro. Publicado em 16 de março 2011. Disponível em: http://goo.gl/OSohVl. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

CONSERVAÇÃO INTERNCIONAL. Evento promove uso sustentável de Áreas Naturais no Cerrado. Publicado em 29 de agosto de 2003. Disponível em: http://goo.gl/oupD39. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

DIÁRIO DA MANHÃ GOIAS. Goiás – Incra assenta quilombolas. Publicado em 17 de novembro de 2006. Disponível em: http://goo.gl/l1zsY7. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

G1 GLOBO. Quilombolas pedem regularização de remédios fitoterápicos, em Goiás. Publicado em 10 de novembro de 2013. Disponível em: http://goo.gl/ZKBDtV. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA GOIAS. Termo de Cooperação entre Incra e UFG beneficia cinco territórios quilombolas em Goiás. Publicado em 23 de agosto de 2013. Disponível em: http://goo.gl/qdmL3V. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

KOGA, P. S. L.; Tarsitano, M.A.A.; PIO, I. J.; Silva, F.C.; SILVA, E. A.. Caracterização socioeconômica e cultural da comunidade quilombola do Cedro-GO. In: V Simpósio sobre Reforma Agrária e Questões Rurais, 2012, Araraquara. V Simpósio sobre Reforma Agrária e Questões Rurais, 2012. Disponível em: http://goo.gl/yFMk9V. Acesso em: 16-01-2015.

RÁDIO ELDORADO. Comunidade do Cedro terá Dia de Campo, na próxima terça (25). Publicado em: 20 de março de 2014. Disponível em: http://goo.gl/ppKXzl. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

REDE CERRADO. Conhecimentos tradicionais e patrimônio genético do Cerrado serão temas de audiência pública. Publicado em setembro de 2013. Disponível em: http://goo.gl/wcxZeM. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

SILVA, J. P. Levantamento Etnohistórico da Comunidade Quilombola do Cedro – GO. In: XXI Encontro Nacional de Geografia Agrária – ENGA, 2012, Uberlândia-MG. Anais do XXI Encontro Nacional de Geografia Agrária – ENGA. Uberlândia-MG: UFU/LAGEA, 2012. v. 1. p. 1-14. Disponível em: http://goo.gl/m3TmXA. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

SINDICATO RURAL DE MINEIROS-GO. O passado e o presente do Quilombo do Cedro. Publicado em 17 de julho de 2014. Disponível em: http://goo.gl/lJhkUA. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

SITE DO XII ENCONTRO DE CULTURAS TRADICIONAIS DA CHAPA DOS VEADEIROS. Quilombola do Cedro compartilha conhecimentos transmitidos por sua avó e fala sobre a preocupação com a preservação de técnicas de cura dentro das comunidades. Publicado em 27 de setembro de 2013. Disponível em: http://goo.gl/bHx72Z. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

THIAGO, F. A comunidade quilombola do Cedro, MineirosGO: Etnobotânica e Educação Ambiental. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal do Estado de Mato Gross para obtenção do título de Mestre, 2011. Disponível em: http://goo.gl/QpRfRK. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Sombra dos quilombos: Livro Pioneiro. Publicado em 11 de dezembro de 2013. Disponível em: http://goo.gl/NvE5kt. Acesso em: 16 de janeiro de 2015.

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