PR – Trabalhadores rurais sem terra reivindicam imóvel em poder da Araupel S.A. para destiná-lo à Reforma Agrária
UF: PR
Município Atingido: Quedas do Iguaçu (PR)
Outros Municípios: Quedas do Iguaçu (PR), Rio Bonito do Iguaçu (PR)
População: Trabalhadores rurais sem terra
Atividades Geradoras do Conflito: Agrotóxicos, Atuação de entidades governamentais, Atuação do Judiciário e/ou do Ministério Público, Madeireiras, Monoculturas
Impactos Socioambientais: Assoreamento de recurso hídrico, Contaminação ou intoxicação por substâncias nocivas, Desmatamento e/ou queimada, Poluição de recurso hídrico, Poluição do solo
Danos à Saúde: Insegurança alimentar, Piora na qualidade de vida, Violência – ameaça, Violência – assassinato, Violência – coação física
Síntese
A Fazenda Rio das Cobras, da empresa Araupel S.A., está localizada entre os municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu, no estado do Paraná. Esta fazenda é palco de uma ocupação realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desde julho de 2014. Dezoito anos após a primeira ocupação realizada nesta mesma região, cerca de 2.500 famílias buscam agora conquistar uma área de 35 mil hectares, destinando-a para a Reforma Agrária.
A Araupel é uma empresa que desenvolve atividades de reflorestamento e processamento de produtos madeireiros voltados principalmente para a exportação. Por isso, a área em questão vem sendo utilizada para o plantio de pinus e eucalipto. Ressalta-se o fato de que a empresa Araupel tem um histórico de acusações de concentração, grilagem e assassinatos na região, em função de diversos conflitos envolvendo camponeses.
Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) do Paraná, a área por ela ocupada é pública e foi grilada ainda na década de 1960. Por esta razão, os trabalhadores reivindicam o imóvel com o fim de produzir alimentos nestas terras, consideradas uma das mais férteis do Brasil. Desde o ano de 2004, tramita na justiça uma ação promovida pelo INCRA contra a Araupel, alegando que as áreas apossadas pela empresa o foram de forma indevida, e, portanto, os títulos sobre as terras não têm valor. Em julho de 2014, o INCRA chegou a formalizar um pedido de nulidade da área da Araupel.
A empresa Araupel, no entanto, tem se utilizado da veiculação de informações deturpadas para deslegitimar o acampamento e a causa dos sem-terra, eximindo-se da questão principal, que é a ilegalidade dos títulos de propriedade das suas terras. Assim, a Araupel tem instigado a população da região a se posicionar contrariamente aos sem-terra.
O INCRA já lançou um edital para compra de lotes rurais no Paraná com o intuito de colocar fim ao conflito na área da Araupel ocupada pelo MST e diminuir a tensão na disputa de terras na região.
Contexto Ampliado
Dezoito anos depois da primeira ocupação na região, famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) voltaram a ocupar uma área da empresa Araupel S.A., localizada entre os municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu, no estado do Paraná. Trata-se da Fazenda Rio das Cobras, um imóvel rural com cerca de 35 mil hectares utilizados como área de plantio de pinus e eucalipto, visto que a Araupel é uma empresa que desenvolve atividades de reflorestamento e processamento de produtos madeireiros, voltados principalmente para a exportação.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) do Paraná alega que a área é pública, tendo sido grilada ainda na década de 1960. Por esta razão, os trabalhadores reivindicam o imóvel para destiná-lo à Reforma Agrária, com o fim de produzir alimentos nestas terras, consideradas uma das mais férteis do Brasil.
Os municípios de Quedas do Iguaçu e Rio Bonito do Iguaçu fazem parte da Microrregião de Guarapuava, que contém 18 municípios. Conforme aponta Ross (2011), no Paraná verificam-se diversas microrregiões onde ocorreram ocupações de terra entre os anos 1988 e 2006, em especial realizadas pelo MST, dentre as quais se destacam as microrregiões de Guarapuava, Cascavel e Paranavaí.
Para Ross (2011), as ocupações têm sido utilizadas como formas de resistência e de luta pela terra do campesinato paranaense, criando formas de territorialização dos camponeses do MST no espaço agrário. De fato, isto representa a negação da estrutura agrária fundamentada na concentração de terras, que garante poder às elites e aos segmentos dominantes do campo.
De acordo com Ross (2011), a microrregião de Guarapuava foi e é palco de grandes conflitos agrários em vista da elevada concentração de terras e grilagens ali existentes. A própria Araupel tem um histórico de acusações de concentração, grilagem e assassinatos na região. Atualmente, a microrregião é um dos maiores territórios do Estado transformados pela luta camponesa, pois 15 municípios possuem pelo menos um projeto de assentamento, somando, no total, 178 projetos, que correspondem a quase 100 mil hectares de terras onde estão abrigadas aproximadamente 5.000 famílias.
É nesta microrregião que estão também os três maiores projetos de assentamento do Estado: Ireno Alves dos Santos (900 famílias), Marcos Freire (604 famílias) – ambos em Rio Bonito do Iguaçu – e o assentamento Celso Furtado (1089 famílias) – em Quedas do Iguaçu. Os assentamentos, juntos, correspondem a cerca de 50 mil hectares que vinham sendo utilizados pela Araupel. De acordo com dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, cerca de 15% da população neste município são de assentados.
A área em questão pertence à madeireira gaúcha Giacomet-Marodin, hoje Araupel S.A. Segundo informações contidas no blog Combate Racismo Ambiental (2014), desde os anos 1930, nesta região, viviam colonos poloneses, trazidos para o Brasil pelo governo Vargas. A Segunda Guerra Mundial arrefeceu o fluxo de imigrantes, e, em 1972, o grupo gaúcho tomou conta da área, derrubou e passou a exportar madeira da floresta nativa e madeiras plantadas.
Ross e Fabrini (2012) apontam que a formação do latifúndio da Araupel ocorreu em 1972, quando dois grupos tradicionais do ramo madeireiro, a Madeireira Giacomet S.A. e a Marodin Exportação S.A. se uniram, formando, no Rio Grande do Sul, a Giacomet-Marodin Indústria de Madeiras S.A. O objetivo da nova empresa era a aquisição de terras no centro-sul do Paraná, como foi o caso das fazendas Pinhal Ralo e Rio das Cobras, totalizando 87.167,51 ha. As terras da empresa Giacomet-Marodin abrangiam cinco municípios paranaenses: Quedas do Iguaçu, Três Barras do Paraná, Rio Bonito do Iguaçu, Espigão Alto do Iguaçu e Nova Laranjeiras.
A Giacomet-Marodin se instalou em Quedas do Iguaçu em 1976, quando criou sua unidade industrial e sua sede no Paraná. É do final desta década que se tem um histórico das lutas pela terra nas áreas da empresa. Nesta época ocorreram vários conflitos entre camponeses que não possuíam terra e os guardas da empresa, chegando a ser montados acampamentos nas áreas, os quais eram despejados pelos próprios guardas. Naquela época não havia ainda uma organização dos agricultores estruturada estadual ou regionalmente. Tratavam-se de lutas localizadas de conquista da terra. Estes movimentos localizados eram formados, principalmente, por posseiros expulsos das suas terras pela empresa em anos anteriores.
As primeiras ações do MST ocorreram em abril de 1996, quando duas das fazendas pertencentes ao grupo – a Fazenda Pinhal Ralo e a Fazenda Rio das Cobras – foram ocupadas por mais de 3 mil famílias (cerca de 12.000 camponeses), em Rio Bonito do Iguaçu. De acordo com a página do MST, meses após a ocupação das fazendas, dois trabalhadores rurais foram assassinados numa emboscada. Registros do laudo técnico apontaram tiros à queima-roupa. Dois funcionários da empresa foram acusados pelos assassinatos. No entanto, foram necessários mais de 10 anos para que fossem julgados. O julgamento ocorreu apenas em dezembro de 2010, quando os assassinos reconheceram o crime contra os Sem Terra, mas foram absolvidos pelos jurados, que argumentaram falta de provas.
Esta ocupação resultou na criação de dois assentamentos, em 1997, já mencionados acima: o assentamento Ireno Alves dos Santos e o assentamento Marcos Freire. Em 1997, a Giacomet-Marodin mudou sua denominação para Araupel S.A.
Devido à insuficiência da área para atender a demanda do grande número de camponeses sem-terra existentes na região, no ano de 1999, os camponeses retomaram os esforços para a conquista da Fazenda Araupel (um dos maiores latifúndios de áreas contínuas do sul do Brasil), quando, organizados no MST, ocuparam o local conhecido como Bacia – um setor da Fazenda no município de Quedas do Iguaçu. Posteriormente, em 2003, foi realizada uma nova ocupação nas áreas da Araupel em Quedas do Iguaçu. Desta vez, os camponeses ocuparam o setor do Silo da referida fazenda, no qual funcionava uma área de estocagem de grãos e insumos agrícolas. Estas duas ocupações resultaram na conquista do Assentamento Celso Furtado. A ocupação ocorrida em julho de 2014 marca um momento de retomada da área da Fazenda Rio das Cobras.
De acordo com o blog Combate Racismo Ambiental (2014), desde 2004 tramita na Justiça uma ação promovida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) contra a Araupel. As conquistas do Assentamento Celso Furtado, em Quedas do Iguaçu, e do Assentamento 10 de Maio, em Rio Bonito do Iguaçu, ocorreram quando o processo já estava em andamento. O processo aponta que as áreas apossadas pela empresa ocorreram de forma indevida, e, portanto, os títulos sobre as terras não tinham valor. Desta forma, o juiz responsável da Comarca de Cascavel concedeu imissão de posse sem que a empresa fosse indenizada, visto que se tratava de apropriação ilegal da área. Cabe salientar, segundo Ross e Fabrini (2012), que, até o ano de 2005, a empresa ocupava 14% da área total de Quedas do Iguaçu.
Assim, em 2014, os municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu voltaram a ser palco de uma disputa entre a população camponesa e a Araupel. Segundo aponta o Jornal Gazeta do Povo (2014), o MST começou a montar um acampamento próximo à área no dia 1º de maio de 2014, com famílias provenientes de diversas partes do estado. As famílias ficaram alojadas por pouco mais de dois meses nas terras do Assentamento Ireno Alves dos Santos, em Rio Bonito do Iguaçu. As pessoas são, em sua maioria, jovens filhos de agricultores assentados em outras ações do movimento. É a geração dos sem terrinha das ocupações já realizadas que, hoje já crescidos, pretendem retomar as áreas para a Reforma Agrária.
Conforme apontado no vídeo intitulado DENÚNCIA! As mentiras da Araupel (2014), a Araupel tem desmatado árvores nativas (como o cedro), para plantar pinus e eucalipto. Isto tem provocado srias consequências para as fontes de água, assoreando rios próximos às plantações, visto que estas árvores consomem uma grande quantidade de água. Ainda segundo o vídeo, a empresa faz uso abusivo de agrotóxicos em locais próximos às nascentes, poluindo-as. Os agricultores querem evitar que o chamado Deserto Verde se alastre ainda mais na região. Por isso, retomaram a área no intuito de produzir alimentos convencionais e orgânicos.
Porém, a empresa Araupel, desde o início, realizou ações contraofensivas com os acampados. De acordo com a página do MST (2014), duas semanas após a criação do acampamento, a Polícia do Estado do Paraná invadiu o Assentamento Ireno Alves dos Santos. No dia 14 de maio de 2014, conforme denúncia em caráter de repúdio feita pela Coordenação do Movimento Sem Terra, teve início uma perseguição orquestrada ao MST, em decorrência, principalmente, de um mandado de busca e apreensão expedido pelo Poder Judiciário da Comarca de Quedas do Iguaçu e de Laranjeiras do Sul.
O mandado teve como objetivo colher qualquer prova sob o pretexto de prender supostos criminosos que estariam no local. As famílias relataram que algumas residências foram invadidas e algumas pessoas foram intimidadas, coagidas e humilhadas. Conforme aponta a denúncia, as principais vítimas foram um assentado do Assentamento Ireno Alves, um assentado do Assentamento Celso Furtado e um professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). O professor foi retirado por policiais da sala de aula, e a polícia ingressou no ambiente acadêmico sem aviso ou autorização do diretor do campus.
Segundo noticiou a página do MST, no dia 20 de maio de 2014, representantes do governo estadual do Paraná e do INCRA visitaram o Acampamento 1º de Maio. Os assentados entregaram a pauta das 2.500 famílias cadastradas no acampamento para o Secretário para Assuntos Fundiários do Paraná, Hamilton Serighelli, para o ouvidor agrário do INCRA, Raul Bergoldi, e para o prefeito de Rio Bonito do Iguaçu, Irio de Rosso (PMDB). Aproveitaram para solicitar uma audiência com o governador Beto Richa (PSDB) e reforçaram que vinham sendo vítimas de calúnias e difamações por parte da Araupel, que os acusava de querer roubar a madeira da empresa.
No dia 30 de maio de 2014, o Jornal Gazeta do Povo informou que houve uma manifestação dos moradores de Quedas do Iguaçu contra a ocupação realizada pelo movimento. Em junho de 2014, o jornal também noticiou que o INCRA, em parceria com a prefeitura local, começou a cadastrar todas as famílias acampadas dentro do assentamento Ireno Alves, incluindo as famílias no cadastro único do Governo Federal para poderem ter acesso a programas sociais.
No início de julho de 2014, o INCRA formalizou o pedido de nulidade da área da Araupel na 3ª Vara Federal de Cascavel por existirem sérias dúvidas jurídicas sobre a legitimidade do título de propriedade da empresa, segundo relatado na página do MST. O processo administrativo consistiu no pedido de que a ação de imissão de posse de parte da área – correspondente a 23 mil hectares, realizada anos atrás para a criação do Assentamento Celso Furtado fosse estendida para o restante da fazenda, visto que os títulos possuem a mesma origem, já que foram outorgados pela Companhia de Ferro São Paulo/Rio Grande, em 1926. Se parte destes títulos já foram considerados nulos, o restante da Fazenda Rio das Cobras área correspondente a 35 mil hectares também poderia vir a ser destinado para a Reforma Agrária, conforme apontou o ouvidor agrário do INCRA no Paraná, Raul Bergold, em entrevista ao site do MST.
Mesmo perante estas informações, a empresa vem realizando uma campanha ideológica para deslegitimar o acampamento e a causa dos sem-terra, eximindo-se do fato em si, que é a ilegalidade dos títulos de propriedade das suas terras. Assim, vem instigando a população da região a se posicionar contrariamente aos sem-terra. Existe, na rede social Facebook, uma página chamada Sou a favor da Araupel em que são divulgadas notícias que criminalizam a ação do movimento na região e exaltam, de maneira deturpada, os feitos e os benefícios da empresa, sem no entanto esclarecer qual é a principal causa em questão.
Além disso, a Araupel propagandeia que já realizou o assentamento de mais de 2.700 famílias ao redor da madeireira, como se tal conquista fosse mérito da própria empresa e não da pressão realizada pelo MST nas ocupações. A empresa também acusou o senador Roberto Requião (PMDB/PR) de incitar a ocupação por meio de uma entrevista dada pelo mesmo a uma emissora de rádio local. Requião, durante a entrevista, mencionou que a empresa usurpava terras da União e questionou se a mesma possuía os documentos da área. Por outro lado, um dos políticos que tem sido um árduo defensor dos interesses dos latifundiários e do agronegócio, discursando no Congresso Nacional contra os trabalhadores sem-terra, é o senador Álvaro Dias (PSDB/PR).
No dia 16 de julho de 2014, durante a Plenária Final do VII Congresso Brasileiro de Geógrafos, realizado em Vitória (ES), os participantes do congresso fizeram uma moção de apoio aos camponeses que lutam pela conquista das terras do latifúndio da Araupel. A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) se solidarizou aos camponeses sem-terra que estavam acampados nas proximidades da Fazenda Rio das Cobras.
Na madrugada do dia 17 de julho de 2014, a ocupação da Fazenda se iniciou de fato, quando cerca de 2.500 famílias ocuparam a área de monocultivo de pinus e eucalipto da Fazenda Rio das Cobras, cobrando a desapropriação do espaço. Foi organizado ali o Acampamento Herdeiros da Luta 1º de Maio.
Durante a ocupação, um helicóptero da Polícia Militar (PM) sobrevoou a área e dezenas de policiais de vários batalhões do estado foram deslocados para Quedas do Iguaçu e Rio Bonito do Iguaçu. Os acampados reforçavam que queriam terras para trabalhar e produzir alimentos, e não madeira para exportação.
No dia 17 de julho de 2014, o site do MST informou que representantes do governo do Estado do Paraná se reuniram com lideranças do MST na prefeitura de Rio Bonito do Iguaçu para dialogar sobre a ocupação realizada na área da Araupel e evitar possíveis conflitos. Até o momento não havia sido expedida nenhuma liminar de reintegração de posse da área. Foi marcada uma nova reunião, no dia seguinte, entre a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (SSP-PR) e representantes da Araupel. Além disso, neste mesmo dia 18, também foi agendada uma reunião na prefeitura de Rio Bonito do Iguaçu com a participação do deputado federal Assis do Couto (PT/PR), de um membro da coordenação de Direitos Humanos e de um representante do MST. O prefeito de Rio Bonito do Iguaçu, Írio de Rosso (PMDB), declarou apoio à luta dos Sem Terra.
Porém, em 19 de julho de 2014, a Gazeta do Povo publicou notícia anunciando que a Justiça havia concedido pedido de interdito proibitório e de reintegração de posse à Araupel. A liminar tinha sido expedida pela juíza Luciana Luchtenberg Torres Dagostim, da Comarca de Laranjeiras do Sul, e pedia que as polícias Civil e Militar fossem oficiadas da decisão.
Em 21 de julho de 2014, o blog Combate Racismo Ambiental apontou que a SSP-PR mediou a negociação entre o MST e a empresa Araupel, fazendo a empresa assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o intuito de negociar uma solução pacífica diante do pedido de interdito proibitório e de reintegração de posse, com o objetivo de definir os rumos da ocupação feita pelo MST nas terras da Fazenda Rio das Cobras.
No dia 29 de julho de 2014 aconteceu, em Brasília, uma reunião com a presidência do INCRA, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e lideranças do MST de Rio Bonito do Iguaçu e da coordenação nacional. Ênio Pasqualin, dirigente estadual do MST, afirmou que o que estava em questão era a necessidade do governo federal e do INCRA se posicionarem sobre um processo judicial que tramita na Justiça, na Comarca de Cascavel, há mais de 10 anos. Durante o encontro fico acordado que a presidência do Incra e a Ouvidoria Agrária Nacional (OAN) iriam ao Paraná nos próximos dias agilizar esse processo, conforme notícia publicada no website do INCRA.
No dia 08 de agosto de 2014, a OAN coordenou uma reunião em Cascavel com o intuito de mediar o conflito entre os sem-terra e a Araupel, conforme apontou o site do INCRA. O encontro marcou a abertura de um canal de diálogo a fim de tentar uma solução pacífica para a disputa e contou com a participação da presidente em exercício do instituto, Érika Borges, do superintendente regional da autarquia no Paraná, Nilton Bezerra Guedes, do assessor de Assuntos Fundiários do Governo do Estado do Paraná, Victor Hugo Serighelli, e do Major Valdir Carvalho de Souza, da coordenadoria Especial de Mediação dos Conflitos da Terra – instância vinculada à SSP-PR. Também compareceram prefeitos dos municípios da região, além de representantes da Araupel e das famílias acampadas. Dentre as propostas apresentadas, uma delas propunha que as famílias permanecessem no local até que fosse finalizada a análise da cadeia dominial (de propriedade) da área, em um prazo de seis meses. Porém, as partes não chegaram a um acordo final.
No dia 12 de agosto de 2014, foi noticiado pelo site do MST que cerca de 11 mil pessoas ligadas a entidades e movimentos sociais do campo e da cidade realizaram manifestos em diversas regiões do Paraná. Sete rodovias do estado foram fechadas, entre elas a que dava acesso às terras da Araupel, em Quedas do Iguaçu. No município, cerca de 6 mil assentados e assentadas fizeram parte do ato político, que também contou com a participação de vereadores, deputados e apoiadores. O ato também ocorreu em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.
O principal objetivo era reivindicar ações concretas do poder público em relação a políticas de consolidação e fortalecimento da agricultura familiar e camponesa, Reforma Agrária e agroecologia. Especificamente na área do conflito em questão, o objetivo também foi denunciar e repudiar a criminalização e o terrorismo midiático que vinha sendo praticado pela imprensa local em favor da Araupel e contra os assentados e acampados, segundo apontou Antonio Miranda, do setor de produção do MST. Um vereador do município, Claudemir Torrente (PT), afirmou que a Reforma Agrária está produzindo empregos além de alimentos, pois somente o Assentamento Celso Furtado injeta mais de R$ 50 milhões na economia local.
Enquanto os agricultores familiares fechavam as rodovias neste ato, uma mesa de negociação entre lideranças das entidades e o deputado federal Assis do Couto (PT), o presidente da União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária em Francisco Beltrão (UNICAFES), Nilceu Kempf, o ministro da Agricultura, Neri Geller, e o diretor de Política Agrícola da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), João Intini, ocorria em Brasília. O objetivo desta reunião era fortalecer pautas da Reforma Agrária e facilitar o acesso aos créditos para a agricultura familiar, em especial nos pontos estratégicos de integração do eixo econômico paranaense, chamando atenção para a importância da agricultura familiar nestas regiões, entre elas, a região onde se localiza a Fazenda Rio das Cobras. Nesta reunião, foram tratadas questões relativas ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), ao Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR) e outras relacionadas ao setor agrícola.
Em 09 de setembro de 2014, as cerca de 2.500 famílias do Acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio comemoraram a inauguração da escola itinerante no acampamento. De acordo com o MST, ao todo, são aproximadamente 590 estudantes atendidos pela escola, que passou a ser formada por 14 turmas, divididas entre a Educação Infantil, com 280 estudantes; do Ensino Fundamental, com 80 estudantes; de Ensino Médio, com 30; e de Educação de Jovens e Adultos (EJA), tanto de alfabetização quanto do Ensino Fundamental, com 200 estudantes.
No dia 28 de outubro de 2014, o MST lançou uma nota pública esclarecendo alguns pontos a respeito de informações veiculadas por meios de comunicação em Quedas do Iguaçu, que afirmaram que o governador Beto Richa (PSDB) havia assinado ordem de despejo do Acampamento 1º de Maio. A nota reforçava o acordo estabelecido entre INCRA, SSP-PR e MST, que garantia que as famílias permaneceriam na área até o levantamento da cadeia dominial da mesma. Enquanto isso, a empresa continuaria em pleno funcionamento, sendo autorizada a retirar madeira das plantações.
Dois dias depois, em 30 de outubro de 2014, o INCRA lançou um edital para compra de lotes rurais no Paraná, medida realizada com o intuito de colocar fim ao conflito na área da Araupel ocupada pelo MST, diminuindo a tensão na disputa de terras na região. Conforme divulgado pelo site do movimento, o Incra estabeleceu um prazo de quatro meses para o término do levantamento sobre a situação de domínio dos terrenos invadidos. A ideia é que após as análises seja possível verificar irregularidades que possam ser usadas para deslegitimar a posse da terra por empresas e pessoas físicas e, com isso, determinar se ela será apta à arrecadação.
Cronologia
Década de 1930 Colonos poloneses são trazidos pelo Governo Vargas para a região dos municípios de Quedas do Iguaçu e Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná.
1972 Dois grupos gaúchos tradicionais do ramo madeireiro, a Madeireira Giacomet S.A. e a Marodin Exportação S.A., se unem e formam, no Rio Grande do Sul, a Giacomet-Marodin Indústria de Madeiras S.A. Este mesmo grupo ocupa a área em questão no estado do Paraná, formando um latifúndio.
1976 – A Giacomet-Marodin se instala em Quedas do Iguaçu, criando sua unidade industrial e sua sede no Paraná.
Abril de 1996 Ocorrem as primeiras ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região, quando duas fazendas pertencentes ao grupo, a Fazenda Pinhal Ralo e a Fazenda Rio das Cobras, são ocupadas.
1997 São criados os assentamentos Ireno Alves dos Santos e Marcos Freire, em Rio Bonito do Iguaçu.
– A Giacomet-Marodin muda sua denominação para Araupel S.A.
1999 – Os camponeses retomam esforços para a conquista da Fazenda Araupel quando, organizados no MST, ocupam o local conhecido como Bacia – um setor da Fazenda no município de Quedas do Iguaçu.
2003 – É realizada uma nova ocupação nas áreas da Araupel em Quedas do Iguaçu.
2004 O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) move uma ação contra a Araupel, apontando que áreas apossadas pela empresa ocorreram de forma indevida.
1º de maio de 2014 – O MST começa a montar um acampamento, próximo à área da Fazenda Rio das Cobras, formado por famílias provenientes de diversas partes do estado.
14 de maio de 2014 – A Coordenação do Movimento Sem Terra publica denúncia repudiando a perseguição orquestrada ao MST.
20 de maio de 2014 – Representantes do governo estadual do Paraná e do INCRA visitam o Acampamento 1º de Maio.
30 de maio de 2014 – Acontece uma manifestação dos moradores de Quedas do Iguaçu contra a ocupação realizada pelo MST.
Junho de 2014 – O INCRA, em parceria com a prefeitura local, começa a cadastrar todas as famílias acampadas dentro do assentamento Ireno Alves.
Julho de 2014 O INCRA formaliza pedido de nulidade da área da Araupel na 3ª Vara Federal de Cascavel.
16 de julho de 2014 – Durante a Plenária Final do VII Congresso Brasileiro de Geógrafos, realizado em Vitória (ES), os participantes do congresso fazem uma moção de apoio aos camponeses ocupantes das áreas da Araupel.
17 de julho de 2014 – Durante a madrugada, a ocupação da Fazenda se inicia, quando cerca de 2.500 famílias ocupam a área da Fazenda Rio das Cobras, organizando ali o Acampamento Herdeiros da Luta 1º de Maio.
– Representantes do governo do Estado do Paraná se reúnem com lideranças do MST na prefeitura de Rio Bonito do Iguaçu
18 de julho de 2014 Acontecem duas reuniões: uma com a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (SSP-PR) e representantes da Araupel; e outra na prefeitura de Rio Bonito do Iguaçu.
19 de julho de 2014 – A Justiça concede pedido de interdito proibitório e de reintegração de posse à Araupel.
21 de julho de 2014 – A SSP-PR media a negociação entre o MST e a empresa Araupel para assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
29 de julho de 2014 – Acontece, em Brasília, uma reunião com a presidência do INCRA, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e lideranças do MST de Rio Bonito do Iguaçu e da coordenação nacional.
08 de agosto de 2014 A Ouvidoria Agrária Nacional (OAN) coordena uma reunião em Cascavel com o intuito de mediar o conflito entre os sem-terra e a Araupel.
12 de agosto de 2014 – Cerca de 11 mil pessoas, ligadas a entidades e movimentos sociais do campo e da cidade, realizam manifestos em diversas regiões do Paraná.
09 de setembro de 2014 As famílias do Acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio comemoram a inauguração da escola itinerante no acampamento.
28 de outubro de 2014 – O MST lança uma nota pública esclarecendo informações veiculadas por meios de comunicação em Quedas do Iguaçu.
30 de outubro de 2014 – O INCRA lança edital para compra de lotes rurais no Paraná, estabelecendo prazo de quatro meses para o término do levantamento sobre a situação de domínio dos terrenos invadidos.
Fontes
A situação da Reforma Agrária, os políticos e a urgência de soluções. Combate Racismo Ambiental, 13 de setembro de 2014. Disponível em: http://goo.gl/OCqqYf. Acesso em: 30 de outubro de 2014.
BRAVA gente assentada: o assentamento Celso Furtado. Combate Racismo Ambiental, 05 de novembro de 2014. Disponível em: http://goo.gl/XRQkqu. Acesso em: 30 de outubro de 2014.
CERCA de 3 mil famílias Sem Terra ocupam área da Araupel no Paraná. Instituto Humanitas Unisinos, 28 de julho de 2014. Disponível em: http://goo.gl/XwpKPO. Acesso em: 30 de outubro de 2014.
DENÚNCIA! As mentiras da Araupel. 211. Publicado em 30 de julho de 2014. Disponível em: http://goo.gl/WBZd4B. Acesso em: 30 de outubro de 2014.
INCRA contesta título de propriedade da empresa Araupel, no Paraná. Combate Racismo Ambiental, 03 de julho de 2014. Disponível em: http://goo.gl/kQaHWm. Acesso em: 30 de outubro de 2014.
JUSTIÇA concede reintegração de posse à Araupel. Gazeta do Povo, 19 de julho de 2014. Disponível em: http://goo.gl/4VGXu9. Acesso em: 30 de outubro de 2014.
LUTA pela terra no PR faz Incra lançar edital para compra de áreas ocupadas. Combate Racismo Ambiental, 03 de novembro de 2014. Disponível em: http://goo.gl/XHng1S. Acesso em: 30 de outubro de 2014.
MAIS de 11 mil se mobilizam no Paraná e conquistam avanços significativos. MST, 13 de agosto de 2014. Disponível em: http://goo.gl/osFPKE. Acesso em: 30 de outubro de 2014.
MEGA operação da polícia invade assentamento e intimida famílias no Paraná. Combate Racismo Ambiental, 16 de maio de 2014. Disponível em: http://goo.gl/t7Lb7R. Acesso em: 30 de outubro de 2014.
MST conquista direito de permanecer na ocupação da Araupel no PR. Combate Racismo Ambiental, 21 de julho de 2014. Disponível em: http://goo.gl/yYVbhz. Acesso em: 30 de outubro de 2014.
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