SP – Pólo Petroquímico em área urbana densamente habitada emite gases que podem provocar alterações no funcionamento da tireóide, afetando particularmente às crianças

UF: SP

Município Atingido: São Paulo (SP)

Outros Municípios: Mauá (SP), Santo André (SP), São Paulo (SP)

População: Moradores de bairros atingidos por acidentes ambientais, Operários

Atividades Geradoras do Conflito: Indústria química e petroquímica

Impactos Socioambientais: Poluição atmosférica, Poluição de recurso hídrico

Danos à Saúde: Doenças não transmissíveis ou crônicas

Síntese

Além dos riscos de acidentes inerentes ao funcionamento de um Pólo Petroquímico numa área urbana densamente habitada, existem suspeitas de que a poluição do ar por gases emitidos dos ?flares? (queimadores localizados no alto das torres) provocam alterações no funcionamento da tireóide, afetando particularmente às crianças.

Contexto Ampliado

O Pólo Petroquímico de Capuava (também chamado 'do Grande ABC') começou sua história em 1954, quando a Petrobras instalou uma de suas primeiras unidades no Estado de São Paulo, a Refinaria de Capuava – na época, a maior refinaria de petróleo do país. Hoje ele é integrado por 14 indústrias localizadas nos municípios de Mauá e Santo André. O Pólo produz etileno, propileno, polietileno dentre outros petroquímicos que são matérias-primas para a fabricação de borrachas, tintas, produtos farmacêuticos, vidros, embalagens, resinas, tubos, mangueiras, calçados, filmes plásticos, peças injetadas, adesivos, espumas expandidas, agrotóxicos, portas, janelas, cosméticos.

Desde sua construção, o Pólo tem provocado problemas ambientais com impactos à saúde das comunidades vizinhas. A sua instalação, bem como os primeiros anos de funcionamento resultaram em danos irremediáveis ao rio Tamanduateí: a construção de uma barragem e a poluição de suas águas com efluentes químicos. A ocupação irregular e os efluentes industriais clandestinos têm contribuído para a poluição dos córregos e rios da região. De acordo com artigo publicado nos Cadernos de Saúde Pública (Lacaz, 1997) registraram-se lançamentos de mercúrio e de dicloroetano no rio Grande (ou Jurubatuba) um dos afluentes da represa Billings na cidade de Santo André/SP, pela Solvay do Brasil (antiga Eletrocloro) empresa belga do Pólo Petroquímico de Capuava.

Em 1984, os moradores do jardim Ana Maria e Santo Alberto foram atingidos por uma nuvem de amônia que vazou do Pólo Petroquímico de Capuava. No início da década de 90, empresas do Pólo estiveram envolvidas com casos de Benzenismo (contaminação com a substância tóxica Benzeno), com registro de afastamento e até a morte de um trabalhador por leucemia.

Em 2002, uma falha no processo de fabricação de um produto químico denominado ditilfosfato de zinco, utilizado como aditivo de óleo lubrificante, provocou a emissão de fortes odores na Chevron Oronite Brasil Ltda. no Pólo Petroquímico de Capuava, em Mauá. Devido à característica dos gases, à altura da chaminé do pós-queimador (15 metros em relação ao nível do solo) e às condições de dispersão de poluentes desfavoráveis no período em ocorreram as emanações, o odor persistiu na atmosfera, sendo perceptível em locais bastante distantes da fonte de emissão.

Em fevereiro de 2004, uma explosão seguida de um incêndio destruiu totalmente o setor de thinner – substância altamente inflamável – da Bandeirante Química, empresa que compõe o Pólo Petroquímico de Capuava, em Mauá (SP). O fogo se alastrou rapidamente, com chamas que atingiram cerca de 20 metros de altura. Um trabalhador se feriu.

Contudo, o principal impacto da poluição causada pelo Pólo nos bairros próximos a divisa de Mauá, Santo André e São Paulo é a prevalência de uma doença auto-imune que afeta à glândula Tiróide. Isso foi constatado através de três estudos desenvolvidos pela médica endocrinologista Maria Ângela Zaccarelli Marino, professora da Faculdade de Medicina do ABC, ao longo de 17 anos. De acordo com os resultados da pesquisadora, os moradores de regiões próximas ao Pólo Petroquímico de Capuava, em Mauá, na Grande São Paulo, têm cinco vezes mais incidência de tireoidite crônica.

A pesquisa avaliou 2.004 pessoas. Metade de moradores nas áreas de divisa entre a Zona Leste e as cidades de Santo André e Mauá, perto do Pólo, e a outra é residenteem bairros distantes. Dos próximos ao Pólo, 324 (32%) apresentaram a doença. No outro grupo foram 65 (6%). Dividindo por região, 23% dos habitantes do Parque São Rafael, na Zona Leste da capital paulista, têm tireoidite. Em Santo André, no Parque Capuava, o percentual foi de 46%, no Jardim Sônia e Silvia Maria, 30%, todas são áreas próximas ao Pólo. Já no grupo de comparação, na população de Santa Maria, em São Caetano, o índice foi de 2,9%. Na vila Vivaldi, em São Bernardo, e Príncipe de Gales, em Santo André, o número de portadores ficou em 8%. Outro aspecto levantado pela pesquisa foi o elevado número de crianças com a doença. Perto do Pólo, 47,3% estavam doentes contra 2,05% dos bairros vizinhos. A pesquisa conseguiu mostrar a comprovar estatisticamente a diferença entre um grupo e outro, porém, mas ainda é preciso pesquisar qual é o agente ou os agentes químicos que estão causando a incidência da doença.

Além da pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC, o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) da Secretaria Estadual de Saúde também concluiu um estudo semelhante na região. O trabalho mostrou que a incidência da doença foi 78% maior que a resgistrada em outros bairros analisados. O levantamento do CVE comparou 781 pessoas que moram perto do Pólo Petroquímico com outras 752 que vivem no bairro Serraria, em Diadema, uma área também industrial, só que com características diferentes do Pólo Petroquímico. Em 2002, após a médica endocrinologista Maria Ângela Zaccarelli Marino relatar vários casos da doença entre a população residente no entorno das empresas petroquímicas de Capuava, o Ministério Público pediu esclarecimentos e, desde então, o caso vem sendo observado e estudado pela Divisão de Doenças Ocasionadas pelo Meio Ambiente (Doma) e pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE).

Em 2009, a Dra. Zaccarelli Marino presentou os resultados de 20 anos de pesquisas na Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa de São Paulo, presidida pelo deputado Rodolfo Costa e Silva e na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Contaminações Ambientais.

Última atualização em: 25 de fevereiro de 2010

Fontes

Adriano Diogo alerta sobre casos de tireóide crônica devido à contaminação ambiental. Disponível em http://www.adrianodiogo.com.br/meioambiente/econoticias_conteudo.asp?id_noticias=347

Causas da Tireoidite. Disponível em http://www.sindifarmajp.com.br/noticias.php?not_id=176

Confederação Nacional do Ramo Químico (CNQ-CUT). Explosão no Pólo Petroquímico de Capuava, em Mauá (SP) deixa um trabalhador ferido. Disponível em http://www.cnq.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=13620&Itemid=2

CUT – Químicos do ABC paulista promovem ato de paralisação no Pólo Petroquímico de Capuava. Disponível em http://www.cut.org.br/content/view/17310/170/

Desastres ambientais no ABC. Disponível em http://www.abcdaecologia.hpg.ig.com.br/poluicaodesastreabc.htm

Empresas Associadas – Pólo Petroquímico do Grande ABC. Disponível em www.poloabc.com.br/

Governo paulista analisa problema de saúde nos arredores de pólo petroquímico no ABC. Disponível em http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/02/22/materia.2008-02-22.8204688693/view

Ianni AMZ & Quitério LAD. A questão ambiental urbana no Programa de Saúde da Família: avaliação da estratégia ambiental numa política pública de saúde. Ambiente & Sociedade ? Vol. IX nº. 1 jan./jun. 2006. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/asoc/v9n1/a09v9n1.pdf

Inácio, SR da Luz. Morte Lenta No Trabalho. Disponível em http://www.artigonal.com/administracao-artigos/morte-lenta-no-trabalho-654879.html

Lacaz, FA de Castro. Saúde dos trabalhadores: cenário e desafios. Cad. Saúde Pública. 1997, vol.13, supl.2. Disponível em http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1997000600002

Odor de indústria, em Mauá, provoca incômodos à população. Disponível em http://www.ambiente.sp.gov.br/destaque/odor_maua.htm

Petroquímicas do ABC cuidam da saúde dos trabalhadores, diz representante. Disponível em http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/02/22/materia.2008-02-22.1248445216/view

Poluição provoca doença auto-imune no entorno do Pólo Petroquímico de Capuava. Matéria elaborada por José Contreras, ambientalista do MDV – Movimento em Defesa da Vida do Grande ABC. 3 de abril de 2009. Disponível em http://br.dir.groups.yahoo.com/group/APABororeColonia/message/2626

Tamanduatei tem nascente poluída. FSA ? Centro Universitário Fundação Santo André. Disponível em http://www.fsa.br/conteudo/index.asp?pagina=release_interno&c=7&s=9&id=59

3 comentários

  1. Recentemente descobri problema na tireóide, e cresci muito próximo à este polo petroquímico. Acredito que meu problema tem relação com isto.

  2. Atualmente 08/02/2021
    Moro próxima ao polo e ano passado nosso quintal começou a ficar sujo, diariamente cai uma poeira preta, tipo aquelas cinzas de qdo queima mato. As crianças ão brincarem, ficam com pés e pernas pretos. Imagine ao respirarmos essa poluição.
    Como podemos denunciar ?!

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