Assentamento Palmares luta por terra, infraestrutura e direitos básicos, como moradia e educação, há mais de duas décadas
UF: PI
Município Atingido: Luzilândia (PI)
População: Agricultores familiares, Trabalhadores rurais sem terra
Atividades Geradoras do Conflito: Atuação de entidades governamentais
Impactos Socioambientais: Alteração no regime tradicional de uso e ocupação do território
Danos à Saúde: Piora na qualidade de vida, Violência – ameaça
Síntese
O Assentamento Palmares, localizado no município de Luzilândia, Piauí, a 240 km de Teresina, foi fundado em 1997 como resultado da ocupação organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em uma área pertencente ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) (MST, 2019; Vale, 2024). O início da ocupação foi marcado por forte resistência local, inclusive com ameaças e repressão, mas também por apoio de lideranças religiosas e sindicais, como o padre João Ladislau e a freira Ana Tottini (Vale, 2024).
O documentário Assentamento Palmares, de Clenildo Vale, retrata os 27 anos de luta pela terra, infraestrutura e direitos básicos como moradia e educação. Segundo relatos dos assentados, a união e a mobilização popular foram determinantes para superar o preconceito contra o MST e consolidar o assentamento (Vale, 2024).
A formação da Escola Bernardo Sabino, inicialmente em um barracão de palha, tornou-se símbolo do compromisso com a educação do campo. A instituição se transformou em referência local de ensino, com uma pedagogia voltada para a realidade rural, alcançando o primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) municipal (MST, 2019; Vale, 2024).
O assentamento também se destaca por iniciativas agroecológicas, como a Unidade de Demonstração de Quintal Agroecológico (2016), promovida pelo programa Piauí Produtivo em parceria com o Governo do Estado, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e associações locais, com o objetivo de estimular a produção sustentável (Acesse Piauí, 2016).
Em 2022, foi inaugurada a primeira praça ecológica do município, construída com materiais recicláveis e idealizada pelos próprios moradores como parte do Plano Nacional de Plantio de Árvores e Produção de Alimentos Saudáveis do MST (Luzilândia, 2022). Além disso, ações sociais voltadas à juventude rural reforçaram o papel do assentamento como espaço de cidadania e protagonismo juvenil (Cidade Verde, 2016).
Com cerca de 100 famílias em 2025, o assentamento Palmares ainda enfrenta conflitos territoriais, agravados pela ocupação irregular de parte de suas terras por conjuntos habitacionais urbanos. Em resposta, o Incra realizou ações de mediação e acordos com as famílias ocupantes, iniciando o processo de cessão das áreas à prefeitura para regularização fundiária (Incra, 2025).
Contexto Ampliado
O Assentamento Palmares se localiza no município de Luzilândia, no Piauí, a 240 quilômetros da capital Teresina. Foi formado em 1997, a partir de processo de ocupação organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST, 2019).
Em Luzilândia, a questão agrária tem sido marcada por conflitos fundiários e pela urgência da regularização das terras. A atuação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em parceria com a prefeitura local, tem se concentrado na proteção dos direitos de famílias assentadas, na retirada de ocupações irregulares e na redefinição dos limites dos assentamentos. Esses desafios refletem uma realidade comum em diversas regiões de reforma agrária, nas quais a garantia da segurança jurídica e territorial das famílias exige ações coordenadas e contínuas do poder público (Incra, 2025).
O documentário Assentamento Palmares, de Clenildo Vale, retrata a formação e a história de 27 anos de luta desse assentamento, que começou em 27 de novembro de 1997, a partir da mobilização de trabalhadoras e trabalhadores rurais sem terra em luta pela reforma agrária (Vale, 2024).
A ocupação teve início na localidade Suruega, então pertencente ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), às margens do rio Parnaíba. Da ocupação participaram várias famílias que não tinham onde morar e produzir seu alimento (Vale, 2024).
Como evidenciado no documentário, em Luzilândia, os integrantes do MST eram estigmatizados como violentos e hostis. A presença do movimento na região não era bem-vinda, resultando em diversas formas de intimidação, incluindo ameaças de morte (Vale, 2024).
No vídeo, assentados relataram que as intimidações começaram logo após o início da ocupação. A comunidade luzilandense encontrava-se dividida: uma parte apoiava a ação do MST, outra era contra. Os ocupantes enfrentaram resistência e repressão policial. Apesar do medo inicial, a mobilização de numerosas famílias foi fortalecida, segundo eles, com coragem e determinação. Um dos principais apoiadores e articuladores do processo foi o padre João Ladislau, pároco da cidade de Esperantina (Vale, 2024).
Nos primeiros momentos de conflito entre os colonos ligados ao projeto do Dnocs e os integrantes do MST, algumas lideranças religiosas e sindicais tentaram intermediar a situação. Nesse contexto, o padre João Ladislau, a freira Ana Tottini (vinda de Santa Catarina), o padre Everaldo; a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, Maria dos Aflitos; e seis jovens ligados ao Movimento acabaram sendo feitos reféns pelos colonos do Dnocs, que disputavam com o MST a posse de aproximadamente 6.500 hectares de terras então pertencentes ao Departamento, situadas na localidade de Lagoa do Piauí, em Luzilândia (Vale, 2024).
No documentário, o senhor Cici, assentado rural, relatou que o movimento teve início com cerca de 500 famílias, a maioria composta por trabalhadores e trabalhadoras rurais de Luzilândia. Segundo o padre João Ladislau, os conflitos começaram devido à necessidade urgente de terra para que os lavradores pudessem plantar e garantir seu sustento. Ele também destacou o papel da imprensa, que contribuiu para dar visibilidade aos acontecimentos (Vale, 2024).
Como contou a assentada Maria Alceneide da Silva, no dia em que a ocupação começou, os grupos se organizaram rapidamente: enquanto alguns construíam os barracos, outros limpavam a área, retirando mato e forquilha (ramo de árvore ou arbusto que se bifurca, com o formato parecido com a letra Y). Ela afirma guardar lembranças positivas desse momento, marcado, segundo ela, pela força coletiva (Vale, 2024).
Já para Maria Rodrigues Souza, participar das ações do MST teve um significado profundo. Ela relatou que, ao longo do processo de ocupação, adquiriu conhecimento sobre a luta pela terra e conseguiu vencer a barreira do analfabetismo, transformando sua relação com a educação e com os direitos do campo (Vale, 2024).
O senhor Cici relembra que, no dia inicial da ocupação, um grupo de famílias seguiu em um carro até o Incra, marcando o início do diálogo com o Instituto. No entanto, junto com a ação coletiva, também surgiu o medo e a hostilidade. Ildêne Pereira, coordenadora do assentamento em 2024, recorda que as famílias envolvidas passaram a ser malvistas por parte da população local, o que gerou um clima de tensão e insegurança.
Naquele momento, como explica o senhor Cici, muitos não compreendiam o que era um assentamento. Com o passar do tempo, essa percepção foi se transformando. Segundo ele, à época da gravação do vídeo, os assentados passaram a ser reconhecidos positivamente devido à produção agrícola e à aplicação dos recursos recebidos por meio do Incra (Vale, 2024).
Para conter os conflitos entre os colonos ligados ao Dnocs e o MST, foi feita a doação oficial de parte das terras pelo Departamento ao MST, o que possibilitou a criação e a consolidação do assentamento. Cerca de 27 anos depois, o presidente da associação de moradores, Cleber Soares, avalia positivamente os avanços conquistados. Ele destaca a melhoria na qualidade de vida das famílias, o acesso à moradia própria, a divisão das terras para produção, e a construção de uma infraestrutura comunitária: escola, área de lazer, ginásio de esportes, praças e igrejas. Para Cleber, a união da população e a superação da escassez de alimentos são provas de que a luta valeu a pena (Vale, 2024).
A professora Lidiane Carvalho também relata as mudanças significativas ao longo dos anos. Quando começou a dar aulas, a escola funcionava em uma casa de taipa pertencente à associação, com pequenos espaços improvisados para acomodar os alunos. Hoje, a Unidade Escolar Bernardo Sabino conta com uma estrutura adequada e já foi reconhecida como a melhor do município, segundo avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A escola adota uma proposta pedagógica que valoriza a educação contextualizada ao modo de vida local e já formou estudantes que atualmente cursam diversas graduações, como direito, licenciaturas, medicina e medicina veterinária (Vale, 2024).
Ao promover a ocupação de terras improdutivas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem entre suas prioridades a garantia do direito à educação para as famílias camponesas. É a partir dessas iniciativas que surgem as escolas destinadas à formação de crianças e adolescentes sem-terra nas regiões rurais do Brasil (MST, 2019).
Foi assim, por exemplo, com a Escola Bernardo Sabino, no Assentamento Palmares. A alfabetização das crianças começou a acontecer pelos próprios assentados em um barracão de palha e hoje, mais de 20 anos depois, se tornou uma referência na região pela qualidade de ensino (MST, 2019).
“Em 1997, quando se estabeleceu o acampamento, buscamos quem tinha maior nível de escolaridade entre os acampados. Eu só tinha ensino médio. Começamos a alfabetizar as crianças e depois de três anos legalizamos a escola. Porém, professores da rede municipal se recusavam a dar aula no assentamento. Nós tivemos que nos organizar e fazer curso superior em outro estado. Voltamos pra escolinha com a proposta de ensinar voltado mais para a educação do campo”, lembra Ildener Pereira de Carvalho, assentada e educadora da escola (MST, 2019).
O destaque do Assentamento atraiu a atenção do Estado e de diversas instituições, que se uniram para fortalecer ações voltadas ao desenvolvimento da agricultura familiar local. Um exemplo disso foi a criação da Unidade de Demonstração de Quintal Agroecológico em 2016, uma iniciativa do programa Piauí Produtivo, com o objetivo de beneficiar as famílias da região. O projeto visava a ensinar os moradores a implementar e manter um quintal agroecológico, contribuindo para o aumento da produtividade local.
A unidade foi construída em parceria entre o Governo do Estado do Piauí, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), e a Universidade Federal do Piauí (UFPI), com apoio do programa Saberes Agroecológicos. Também colaboraram com a iniciativa a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), a Prefeitura de Luizilândia, o Incra, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais e as associações locais (Acesse Piauí, 2016).
O governador Wellington Dias (Partido dos Trabalhadores, PT) destacou que o estado estava implementando no assentamento Palmares um projeto que tinha o intuito de gerar renda para a população local. O modelo adotado envolvia a criação de peixes em um sistema compacto, no qual seria possível criar até 250 peixes em um tanque de 11 mil litros de água, com a possibilidade de alcançar um peso de até 1 quilo em seis meses.
Essa água também seria reutilizada para irrigação de hortas e fruticultura, além de ser usada na criação de galinhas. O objetivo era garantir uma renda média de pelo menos três salários mínimos por família, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e tirando as pessoas da condição de baixa renda (Acesse Piauí, 2016).
No período, os moradores do assentamento Palmares receberam 100 alevinos de tilápia e 250 mudas de caju, visando a fortalecer a produção de fruticultura. Além disso, foram entregues frutas e 22 cartões às famílias cadastradas no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), conhecido como Compra Direta (Acesse Piauí, 2016).
Ildener Pereira de Carvalho, agricultora e presidente da Associação dos Moradores do Assentamento Palmares, destacou a grande expectativa da comunidade em relação à Unidade Demonstrativa. Ela afirmou que o projeto ofertou uma oportunidade de organizar e sistematizar a produção local, com o suporte de profissionais especializados. A presidente reforçou à época que esse modelo poderia ser o início de uma série de outras iniciativas para tornar o assentamento um polo de produção de hortaliças e frutas, com a intenção de expandir a experiência para outros assentamentos no estado (Acesse Piauí, 2016).
Conforme o portal Acesse Piauí, para o secretário da SDR, Francisco Limma, a iniciativa levou diversos benefícios, como a distribuição de alevinos e mudas, além de possibilitar a compra direta da produção local. Ele ressaltou que, embora as parcerias não fossem fáceis de se estabelecer, foram essenciais para o sucesso dos programas de apoio à agricultura familiar, destacando o esforço do estado para incentivar a produção nos assentamentos do Piauí (Acesse Piauí, 2016).
Em 2016 a formação da juventude do Assentamento Palmares ganhou atenção com a realização de uma roda de diálogos promovida pela Coordenadoria da Juventude do Estado do Piauí (Cojuv), em parceria com lideranças locais. A atividade abordou temas relevantes como sexualidade, gravidez na adolescência, violência contra a mulher e o uso de tecnologias, promovendo reflexões e ampliando o olhar crítico dos jovens sobre questões sociais e de saúde.
Também foi articulada a possibilidade de futuras ações do programa Juventude Rural – Saberes e Cidadania, voltadas ao fortalecimento da educação e da cidadania no meio rural. Conforme notícia do Cidade Verde, a iniciativa reforçou o compromisso do estado com a formação integral dos jovens, incentivando seu protagonismo dentro e fora da comunidade assentada (Cidade Verde, 2016).
Essa ação discutiu pontos referentes à saúde e outros aspectos sobre o bem–estar da comunidade e reforçou a ideia de que a implantação de assentamentos de reforma agrária pode auxiliar a criar condições para a implementação de políticas públicas de saúde específicas, que consideram as particularidades do meio rural, promovendo a inclusão social, a melhoria das condições sanitárias e o acesso ampliado aos serviços de saúde, especialmente por meio da Atenção Primária e da articulação intersetorial (Brasil, 2013).
Apesar dos avanços, muitos assentamentos enfrentam dificuldades, como a distância das unidades de saúde, falta de equipes completas e carência de agentes comunitários, o que demanda esforços contínuos para garantir acesso efetivo e integral à saúde (Souza, 2021).
Outra iniciativa de destaque promovida pelo Assentamento, uma parceria do MST com a prefeitura municipal, foi a implantação da Praça Ecológica, inaugurada em 3 de abril de 2022. O projeto, idealizado pelos próprios assentados, integrou o Plano Nacional de Plantio de Árvores e Produção de Alimentos Saudáveis do MST — uma proposta com duração prevista de dez anos, que tem como meta o plantio de 100 milhões de árvores em todo o país, além de fomentar a consciência ambiental nas comunidades envolvidas (Prefeitura Municipal de Luzilândia, 2022).

A entrega da primeira Praça Ecológica de Luzilândia reuniu moradores do Assentamento Palmares, representantes políticos e a população local em um evento que, segundo o poder local, foi marcado “pela valorização da sustentabilidade e do protagonismo comunitário”. O espaço foi construído com materiais reciclados, como pneus e troncos, coletados pela comunidade com o apoio da gestão municipal.
A iniciativa contou com mutirões voluntários para pintura, ornamentação com plantas nativas e montagem de brinquedos sustentáveis. O projeto, além de oferecer um novo local de lazer, simbolizou o compromisso coletivo com a preservação ambiental e homenageou o assentamento, reforçando os valores de pertencimento (Prefeitura Municipal de Luzilândia, 2022).
Dando continuidade às ações voltadas ao fortalecimento das comunidades rurais da região, famílias de seis assentamentos localizados nos municípios de Batalha e Luzilândia, no Baixo Parnaíba piauiense, foram beneficiadas com contratos do Crédito Instalação, concedidos pelo Incra. Em Luzilândia, 64 famílias do Assentamento Palmares receberam os créditos em 14 de dezembro de 2023, totalizando cerca de R$ 2,1 milhões. Foram contempladas as modalidades Apoio Inicial, Fomento, Fomento Mulher e Semiárido, cada uma voltada a necessidades específicas dos assentados (Brasil, 2023).
O Apoio Inicial, no valor de R$ 8 mil, auxiliou na instalação das famílias e aquisição de itens essenciais. O crédito Fomento, de R$ 16 mil, foi destinado à implantação de projetos produtivos. O Fomento Mulher, no valor de R$ 8 mil, incentivou iniciativas lideradas por mulheres assentadas. Já a modalidade Semiárido, também de R$ 16 mil, apoiou a estruturação de sistemas de captação e uso de água para consumo e produção. Todas as linhas seguiram os critérios estabelecidos pelo Decreto nº 11.586/2023 (Brasil, 2023).
Apesar das conquistas alcançadas ao longo dos anos — como a melhoria da infraestrutura, o fortalecimento da produção agroecológica, o acesso à educação —, o Assentamento Palmares voltou a enfrentar tensões relacionadas à posse da terra. Mesmo com décadas de consolidação, a comunidade passou a conviver novamente com situações de conflito territorial, que evidenciaram a fragilidade dos marcos jurídicos e a permanência de disputas fundiárias no contexto da reforma agrária. Esses embates ressurgiram com força quando áreas do assentamento passaram a ser ocupadas irregularmente por empreendimentos urbanos, reacendendo o debate sobre a regularização fundiária e os limites entre o urbano e o rural em regiões marcadas por assentamentos de longa data.
Parte da área pertencente ao assentamento Palmares foi ocupada de forma irregular por conjuntos habitacionais construídos pela prefeitura — entre eles, Alto Bonito, Bela Vista, Dilma Rousseff e Francisca Trindade —, que hoje integram a zona de expansão urbana do município. Diante dessa situação, o Judiciário determinou que o Incra realizasse o desmembramento das áreas ocupadas e formalizasse sua doação à prefeitura, que ficará responsável pelo processo de Regularização Fundiária Urbana (Reurb) das famílias residentes nesses locais (Incra, 2025).
Além dos terrenos ocupados pelos conjuntos, será transferida à administração municipal uma área destinada à preservação ambiental, totalizando cinco glebas. Para definir os limites exatos das parcelas a serem cedidas, técnicos do Incra e representantes da prefeitura realizaram visitas técnicas ao local (Incra, 2025).
Entre os dias 7 e 10 de abril de 2025, o Incra no Piauí promoveu uma série de ações no assentamento Palmares com o objetivo de garantir os direitos das famílias assentadas e resolver conflitos fundiários decorrentes de ocupações irregulares. A equipe da Superintendência Regional de Regularização Fundiária do Incra/PI conduziu tratativas com ocupantes não autorizados com o objetivo de realocar para os limites corretos, avançando na formalização da cessão de áreas ao município (Incra, 2025).
O assentamento, com cerca de 100 famílias em 2025, vinha sofrendo com invasões frequentes, incluindo a instalação indevida de cercas dentro dos lotes e o uso irregular das terras por terceiros. Apesar de o Incra já possuir um mandado judicial de reintegração de posse, as tentativas anteriores de resolução via diálogo não haviam obtido resultados concretos (Incra, 2025).
Nesta última ação, no entanto, foi possível alcançar um acordo com as famílias que ocupavam ilegalmente partes da área. Ficou decidido que as cercas seriam reposicionadas de acordo com os limites legais, e que os ocupantes deixariam voluntariamente o local após a colheita do milho, prevista para o final de maio. O processo de negociação contou com o apoio da Prefeitura Municipal de Luzilândia, da Câmara Municipal, da Procuradoria do município, dos próprios assentados e de lideranças comunitárias (Incra, 2025).
Em 10 de abril de 2025, a Prefeitura de Luzilândia assumiu formalmente o compromisso de colaborar com a retirada das cercas irregulares, disponibilizando equipe técnica e transporte para auxiliar na execução da medida. As negociações seguiram em andamento, e a administração municipal se comprometeu a encaminhar ao Incra a documentação necessária para a conclusão da doação das áreas urbanas ocupadas (Incra, 2025).
A regularização fundiária dessas áreas representa um avanço importante para a garantia dos direitos das famílias residentes nos conjuntos habitacionais, ao mesmo tempo em que fortalece a segurança jurídica dos assentados e contribui para a gestão ordenada do território (Incra, 2025).
Atualizado em Maio de 2025
Cronologia
1997 – Formação do Assentamento Palmares, no município de Luzilândia, Piauí.
1997 – Nos primeiros momentos de conflito entre os colonos ligados ao projeto do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e os integrantes do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), algumas lideranças religiosas e sindicais e seis jovens são feitos reféns pelos colonos do Dnocs.
1997 – Para conter os conflitos entre os colonos ligados ao Dnocs e o MST, é feita a doação oficial das terras pelo próprio Departamento, possibilitando a criação e consolidação do assentamento.
1997 – Implantação pelo MST e pela Prefeitura Municipal de Luzilândia da Unidade Escolar Bernardo Sabino, inicialmente funcionando num barracão de Lona.
2015 – Parte da área pertencente ao assentamento Palmares é ocupada de forma irregular por conjuntos habitacionais — entre eles, Alto Bonito, Bela Vista, Dilma Rousseff e Francisca Trindade.
2016 – Criação da Unidade de Demonstração de Quintal Agroecológico, iniciativa do programa Piauí Produtivo, com o objetivo de beneficiar as famílias assentadas.
2016 – Formação da juventude do Assentamento Palmares com a realização de uma roda de diálogos promovida pela Coordenadoria da Juventude do Estado do Piauí (Cojuv), em parceria com lideranças locais.
3 de abril de 2022 – Implantação da Praça Ecológica em parceria com o MST e a Prefeitura Municipal de Luzilândia.
14 de dezembro de 2023 – 64 famílias do Assentamento Palmares recebem, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), créditos nas modalidades Apoio Inicial, Fomento, Fomento Mulher e Semiárido, cada uma voltada a necessidades específicas dos assentados, totalizando cerca de R$ 2,1 milhões.
2024 – Publicação do documentário sobre o Assentamento Palmares, por Clenildo Vale.
Fontes
BRASIL. Ministério da Saúde – MS. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta. 1. ed.; 1. reimp. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. 48 p. Disponível em: https://shre.ink/ei7c. Acesso em: 08 maio 2025.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – MDA. Liberados cerca de R$ 6,2 milhões para famílias de assentamentos no Piauí. Brasília: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, 15 dez. 2023. Disponível em: https://shre.ink/ei7d. Acesso em: 09 maio 2025.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – MDA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra. Acordo encerra conflito e regulariza limites de assentamento em Luzilândia (PI). Combate Racismo Ambiental, 14 abr. 2025. Disponível em: https://shre.ink/ei7B. Acesso em: 09 maio 2025.
COJUV realiza roda de diálogos com jovens do assentamento Palmares, em Luzilândia. Cidade Verde, Teresina, 17 out. 2016. Disponível em: https://shre.ink/ei7Q. Acesso em: 9 maio 2025.
LUZILÂNDIA (Município). Prefeitura de Luzilândia inaugura praça ecológica no Assentamento Palmares. Prefeitura Municipal de Luzilândia, 03 abr. 2022. Disponível em: https://shre.ink/ei7e. Acesso em: 9 maio 2025.
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA (MST). 35 anos de Movimento Sem Terra. MST, 08 fev. 2019. Disponível em: https://shre.ink/ei7o. Acesso em: 9 maio 2025.
SDR inaugura unidade do Quintal Agroecológico em Luzilândia. Acesse Piauí, Luzilândia, 14 mar. 2016. Disponível em: https://shre.ink/ei7h. Acesso em: 09 maio 2025.
SOUSA, Gicelly Maria Lorenzi Zanatta. Implementação da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas em Assentamentos da Reforma Agrária. 2021. 63 f. Dissertação (Mestrado em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola) – Universidade do Estado de Mato Grosso, Faculdade de Ciências Agrárias, Biológicas, Engenharia e da Saúde, Câmpus de Tangará da Serra, 2021. Orientador: Raimundo Nonato Cunha de França. Disponível em: https://shre.ink/e9DZ. Acesso em: 09 maio 2025.
VALE, Clanildo. Documentário Assentamento Palmares, 27 anos de luta. Luzilândia, PI. YouTube, 29 nov. 2024. 1 vídeo (31:37). Publicado pelo canal Clenildo Vale. Disponível em: https://shre.ink/ei78. Acesso em: 09 maio 2025.